1) Armínio Fraga, em "O Estado de São Paulo", 27/05/12: "Agora, depois de alguns anos crescendo a uma taxa de quase 4%, a infraestrutura simplesmente não aguenta mais. (...) É um número que não se consegue medir com precisão, e que depende de várias circunstâncias e elementos. Hoje imagina-se, ou imaginava-se, que ficava em torno de 4%, para alguns um pouco menos."
2) Samuel Pessôa, em "O Estado de São Paulo", 21/05/12: "Penso que o PIB potencial caiu, isto é, a capacidade de a oferta responder a estímulos da demanda, ou quanto o País pode crescer no longo prazo de forma sustentada. Isso não está mais nos 4,5% do segundo mandato do presidente Lula. Provavelmente está mais próximo de 3,5%. Mas esses números muito ruins no primeiro trimestre são mais um problema de demanda."
3) Luis Carlos Mendonça de Barros, em "Jornal do Comércio", 04/05/12: "Em outras palavras, a meta de 4,5% para este ano é inviável porque chegamos à barreira do PIB potencial da economia brasileira. O mesmo ocorreu no ano passado e, certamente, vai ocorrer em 2013 e em 2014 se não houver o entendimento de que, nas condições estruturais atuais do Brasil, crescer de 3% a 3,5% ao ano é o nosso limite"
4) Affonso Celso Pastore, "O Estado de São Paulo", 06/03/12: "[N]otamos que o PIB potencial, que estava andando na faixa dos 4,5%, passou para algo como 4,1% no último trimestre. Infelizmente, está ocorrendo uma redução dessa medida. Nosso crescimento potencial está chegando mais perto dos 4% do que dos 4,5%. Não digo que já esteja em 4%, mas, se o governo não induzir um pouco de melhoria na eficiência da economia, chegará por aí."
Longe de usar este espaço para cravar um número, quero argumentar aqui que o conceito de PIB potencial tem sido usado de uma forma muito "larga", englobando argumentos que não necessariamente refletem o "potencial de crescimento" de uma economia. Para isto, a figura abaixo mostra, na linha verde, a taxa de crescimento da economia brasileira acumulada em 12 meses desde o início da série disponível no site do IBGE. A linha azul mostra a taxa de crescimento em 12 meses das importações mundiais, calculada pelo Netherlands Bureau for Economic Policy Analysis, da Holanda.
Uma das tarefas do economista, em especial do estudante de política monetária, é entender os fatores que permitem que, em um dado período do tempo, as alocações dos agentes em consumo e investimento possam ser feitas sem pressões importantes sobre preços. Crescimento temporário maior do resto do mundo, de uma forma geral, permite maior crescimento da economia doméstica durante este período. As linhas do gráfico sugerem uma forte relação entre a demanda mundial e o crescimento da economia brasileira (de fato, a correlação amostral é de 0.57).
Daí uma certa dúvida que eu tenho em afirmar que o produto potencial apresentou variações importantes em um curto espaço de tempo, como sugerido em algumas das entrevistas citadas acima: a capacidade de oferta da economia, ao meu ver, não se alterou significativamente; a demanda mundial pelo produto nacional, sim. Para ser sincero, problemas como infra-estrutura, educação, estrutura tributária, estes sim determinantes da oferta agregada, são exatamente os mesmos desde o início da amostra. Por outro lado, a demanda mundial, recentemente, está, senão crescendo menos, com certeza mais volátil.
A impressão que tenho é que o "produto potencial" tratado em todas estas entrevistas tem mais a ver com o que o Armínio Fraga, em sua entrevista, define como sendo aquele que "diz respeito ao quão rápido a economia pode andar sem pressionar a inflação. Então é uma definição de muito curto prazo. É um número que não se consegue medir com precisão, e que depende de várias circunstâncias e elementos." Entretanto, mesmo dando o desconto do cálculo "de curto prazo", é difícil olhar para um gráfico como este, pensar nas condições de produção doméstica, e imaginar que exista alguma restrição recente de oferta que tenha reduzido o produto potencial da economia.
Saudações!
3 comentários:
Angelo, provavelmente a estimativa dele é pelo filtro HP ou filtro HP com função de produção, então o conceito é mais estatístico do que econômico e bem mesmo o que o Armínio falou: de curto prazo e bastante impreciso (pelo menos a estimativa pontual, pouco vemos usarem o intervalo de confiança).
Agora, não vejo o porque de não acreditar que o PIB potencial tenha apresentado variações drásticas em um curto espaço de tempo, acho que isso é bem plausível. Para o PIB potencial sofrer uma variação drástica não é preciso que infra-estrutura sofra uma alteração drástica, basta que ela não mude.
É só pensar que existe uma restrição física que anteriormente não era "binding", como a capacidade de escoamento da produção. Ela pode ter sido a mesma desde o início da amostra, mas antes isto não era problema, não era "binding" no sentido inflacionário. Agora que a economia está maior e a capacidade de escoamento está chegando ao limite, o crescimento do produto terá de buscar meios mais caros de escoamento, e a restrição passa a ser "binding" - o PIB potencial, no sentido de crescer sem pressões inflacionárias, cai. O mesmo vale para todo estoque de condicionantes da oferta, como, educação e infra-estrutura geral. O estoque de profissionais educados pode não ter mudado muito, mas como a economia cresceu e se tornou mais complexa, isso se tornou "binding". Os gargalos estão se tornando mais restritivos o que impede que a oferta cresça sem que haja pressão nos preços - e isso poderia ocorrer mesmo que estes problemas existissem desde o início da amostra.
Isto é, não seria o caso de que existe uma restrição recente que surgiu agora e restringe a capacidade de crescimento. Seria o caso de uma restrição que sempre existiu mas seus efeitos sobre o crescimento são maiores agora que o produto também é maior - afinal, crescer 4,5% de uma base maior é muito mais pressão na infra-estrutura do que o mesmo percentual em uma base menor.
Abs
Carlos,
Eu acho que vc, ao longo da explicação, mistura/confunde os efeitos de baixo crescimento do PIB potencial com efeitos do "fechamento" do hiato do produto.
Agora, como hipótese testável do que vc falou: se uma eventual restrição não era "binding" no ínicio da amostra, como vc sugere, por falta de ocupação da capacidade instalada, por que a inflação era alta? Vc está descrevendo uma sub-utilização de recursos, logo os preços deveriam cair. Daí a razão pq acredito que vc está confundindo falta de crescimento potencial com pressão de demanda/fechamento do hiato.
Abraços!
Oi, Angelo, queria dizer PIB potencial no sentido de máximo de produção possível sem pressão inflacionária. O hiato seria a diferença entre este máximo e a produção observada. Antes a restrição não seria ativa (lembrei o nome em português!) não por conta de falta de ocupação da capacidade instalada, mas pelo tipo de produção ser diferente (menor, menos complexo etc), e estes componentes são do tipo "Leontieff", por isso ainda assim há inflação. Por exemplo, uma justiça ineficiente para economia de 1992 poderia não limitar tanto a capacidade de crescimento quanto para a economia de 2012. As estradas de 1992 poderiam não pressionar tanto os custos de crescimento quanto para a economia de 2012 e assim por diante.
Seria algo do tipo: no inicio da amostra eu tinha um estoque K de capital (das empresas) e L de trabalho, e uma restrição "institucional" g(K,L) que não era ativa (mas as outras restrições eram), então o produto potencial seria somente max y=f(K,L) s.a. inflação constante e demais restrições. Agora com o crescimento de K e de L e z própria mudança de F(.), g(K, L) passaria a ser ativa, então para o produto potencial crescer mais é preciso afrouxar a restrição .
Bom estou pensando alto aqui. Abraços.
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