março 23, 2008

Aos Profetas do Fim dos Tempos

Em tempos normais, muitos profetas carregando suas "bíblias" vagam pelas ruas prevendo o fim dos tempos, o apocalipse, a fome, o flagelo e o jiló como elemento essencial da cesta básica alimentar da população pós-crise. Nas crises, os profetas ganham os holofotes, e as publicações que concedem espaço aos profetas parecem aliviadas por terem mantido "o debate" aceso.

Citando suas palavras de ordem contra "o capital transnacional" (onde os fundos de hedge são chamados de "cassinos internacionais"), as "bolhas especulativas", a "incerteza fundamental do processo de decisão econômica" (onde o 11 de setembro, na sua visão distorcida, é o grande exemplo), para os profetas tudo representa uma fonte iminente de colapso do sistema. Aos países menores, chamados de "economias periféricas" (eles adoram esta denominação), não restaria outra prescrição de política que não seja o calote, a moratória e o controle de toda a movimentação econômica com o exterior. De fato, na visão dos profetas, a economia capitalista não parece se constituir de muito mais que uma sucessão de calotes, onde o "Grande Calote" ainda está por vir, de acordo com o previsto em um livro de 1936 ou outro de 1887.

A pergunta essencial que os profetas não respondem: a despeito das bolhas especulativas, a despeito dos fundos de hedge não-fiscalizados, a despeito dos "fluxos financeiros incontroláveis", a despeito da "incerteza fundamental", por que a maior economia do mundo nos últimos 18 anos teve apenas uma recessão de 9 meses, e as "economias periféricas" que seguiram em grande parte os bons manuais de política econômica são vistas justamente como a sustentação para a crise atual? Ou ainda, reformulando última parte da pergunta, tivessem as "economias periféricas" seguido as recomendações proféticas de política econômica, estariam elas em condições de ao menos amenizar a recessão atual?

O tom e o discurso monocórdicos e sinistros destes profetas não é mais do que uma forma de auto-preservação: se não for esta crise que condenará todos ao consumo diário de jiló, vale sempre lembrar que o "Grande Calote" ainda virá. E, com ele, a punição de todos os pecadores que acreditam no mercado e em sua boa (auto-)regulação como o melhor mecanismo de alocação de riquezas pelo mundo.

Abraços!

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