Uma comentarista conhecida no Brasil fez uma análise sobre a convenção republicana. Em sua análise, ela observou, com razão, que os republicanos esconderam os problemas econômicos do país, e tratou, de forma equivocada, da exposição da filha de Sarah Palin, candidata à vice-presidente dos EUA pelo Partido Republicano. Segundo a comentarista, a imagem da filha de Palin teria sido usada pelos republicanos para expor seu "puritanismo", e afirmando que, no Brasil, a questão seria tratada com naturalidade e como um problema de saúde pública, já que estaríamos lidando com a gravidez de uma adolescente.
A análise, na minha opinião, está errada, já que a exploração da imagem da filha grávida da candidata à vice-presidente começou a ser feita por blogs associados com a candidatura de Obama, afirmando que o filho mais novo de Palin seria, na verdade, seu neto. A crítica razoável à gravidez da menina refere-se à defesa dos conservadores pela abstinência como método contraceptivo e a negação da importância de aulas de educação sexual nas escolas. Ou seja, todas as críticas, desde a mais razoável até a mais absurda, partem de frentes democratas, e não o contrário.
Desviei do assunto, mas volto agora: ia deixar um comentário no blog desta comentarista, falando exatamente do que tratei no parágrafo acima. Entretanto, desanimei: o primeiro comentário postado dizia que a reação no Brasil sobre a gravidez da moça dependeria de quem estivesse no poder. Assim, se fosse alguém do PT no governo, seria um escândalo nacional; se fosse um filho bastardo do FHC, não teria publicação alguma e a Globo pagaria pensão para a mãe da criança ficar calada na Espanha (juro que estava escrito com estas palavras, referindo-se a um boato a respeito de um filho do ex-presidente com uma jornalista que a Globo tratou de abafar).
O comentário foi postado exatamente às 18:33hs de hoje, 07 de setembro. Ou seja, o infeliz resolveu gastar o seu final de domingo para: 1) escrever grosserias; 2) escrever grosserias espalhando boatos; 3) escrever grosserias espalhando boatos sobre temas exclusivamente familiares: assumindo que o boato fosse verdade, se a Globo quis pagar uma jornalista para ter um caso abafado, seria problema da Globo, de Fernando Henrique e da jornalista, não?
Mais uma vez, desânimo. Por que tentar contribuir com um debate que, tão rapidamente, desaba para um nível tão rasteiro? Gustavo Franco, no seu artigo deste sábado da Folha, fez um paralelo entre a filosofia "humanitista" de Quincas Borba e o pensamento de Karl Marx. Segundo Franco, Machado de Assis de forma alegórica explicaria o marxismo:
"o princípio da humanitas é 'o encontro de duas expansões', uma das quais é vitoriosa, donde 'o caráter conservador e benéfico da guerra' e o célebre exemplo das duas tribos famintas diante de um campo de batatas. 'A paz, neste caso, é a destruição; a guerra é a conservação'. Para os vencidos, o extermínio e a compaixão; 'ao vencedor, as batatas'."
O meu consolo é que, para comentarista de blog tão barato, tão baixo, quando descobrir que a Globo não é a fonte de todos os males que afligem a sua vida, somente lhe sobrarão batatas.
Abraços!
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