Esta mania de fazer referências a si mesmo usando a terceira pessoa pode trazer frases maravilhosas. Em uma peça cômic... digo, entrevista na Veja desta semana, Edson Arantes do Nascimento se saiu com a pérola:
"Veja - O senhor está com 68 anos. Sente o peso da idade?
Edson - O Pelé é imortal. O Edson não tem medo de envelhecer, nem de morrer. Agora, eu me preocupo com a minha saúde. Faço exercícios e fecho a boca para manter o peso: 78 quilos, o mesmo que eu tinha quando parei de jogar. É bom para a minha altura, 1,72 metro.(...)"
Ou seja, existe o Pelé, que é imortal; existe o Edson, que não tem medo de envelhecer; e existe esta pessoa que respondeu a pergunta, e que se preocupa com a própria saúde, que eu assumo não ser o Pelé (já que imortais não precisam, por definição, se preocupar com temas terrenos), nem ser o Edson (que, por não ter medo de envelhecer, não precisa se ocupar com a saúde).
Eu acho interessante como outras estrelas do esporte não dão entrevistas com referências próprias na terceira pessoa. Michael Jordan não usa, Tiger Woods não usa, Michael Schumacher não usa. Todos têm, em seus esportes, o mesmo sucesso que Pelé no futebol. Todos possuem histórias mais ou menos cabeludas em seu passado, tal como Pelé. Estes três que citei, especificamente, são casos de sucesso financeiro muito maiores do que Pelé.
A impressão que fica é que Pelé cria personagens para explicar suas ações, e para ter a quem também atribuir responsabilidades: quem jogava futebol, era o Pelé; quem teve que reconhecer filhas fora do casamento foi o Edson; quem dava entrevista para a Veja era outra pessoa, como esta outra pergunta parece deixar claro:
"Veja - Mas o senhor se disse um pai ausente quando o seu filho Edinho foi preso por ligação com o narcotráfico.
Edson - Fui ausente por causa do trabalho e resolvi falar porque havia muita injustiça com o Edinho pelo fato de ele ser filho do Pelé. O outro episódio negativo que envolveu o nome do Pelé foi o da filha que o Edson teve e nem ficou sabendo direito que tinha: a ex-vereadora de Santos Sandra Nascimento, que morreu de câncer em 2008. Muita gente falou mal do Pelé, acusou-o de abandonar a filha."
Ok, então o Pelé não pode ser acusado pelos problemas com o Edinho, nem pelo abandono de Sandra Nascimento. Mas o Edson também é "acusado" por esta pessoa de ser ausente da vida de Sandra, já que ela era "a filha que o Edson teve e nem ficou sabendo direito que tinha".
Pelé pode ser um cara ingênuo, pode ser alguém com problemas para lidar com a fama, pode ter o problema que se queira atribuir. Entretanto, vir a público e bater a mão no peito para dizer "eu errei", "eu falhei", "eu não consegui" é de uma grandeza muito maior do que se esconder atrás de personagens.
Abraços
P.S.: Para quem o INSS está pagando a aposentadoria de R$3.000,00, declarada na entrevista?
Nenhum comentário:
Postar um comentário