junho 03, 2009

Quando a Notícia é Crime

Notícia da Folha do dia 1° deste mês: "Governo usa nova reserva de gás contra CPI".

Cheirou mal o título? O conteúdo é pior: de acordo com o jornalista (cof, cof, cof... desculpe, irritação com o ar-condicionado) Kennedy Alencar,


"Para tentar minar a CPI no Senado e criar uma agenda positiva pró-Petrobras, o governo prepara o anúncio da descoberta de duas grandes reservas no país. Segundo apurou a Folha, são uma reserva de gás e óleo no Acre e outra de gás no noroeste de Minas Gerais.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu na semana passada a confirmação da Petrobras. Desde então, a cúpula do governo prepara o anúncio a fim de que coincida com a divulgação das propostas de novas regras de exploração de petróleo na camada pré-sal e com o início dos trabalhos da CPI da Petrobras no Senado."


No dia seguinte (?????) sai a negativa da Petrobrás a respeito das supostas reservas. Talvez o (cof, cof, cof... desculpe, irritação com o ar-condicionado) jornalista não soubesse, mas a divulgação da pesquisa sobre os poços para o governo por parte da Petrobrás poderia constituir um crime, dando ainda mais margem de manobra para a (inoperante, como se vê) oposição. A última parte da nota da Petrobrás indica por que seria um crime:


"A empresa 'destaca também sua política de divulgação de informações ao mercado, que tem por norma anunciar as descobertas de petróleo e gás natural sempre que obtiver dados conclusivos sobre a potencialidade dos blocos explorados em concessão'."


Sim, estou falando aqui de divulgação de informações privilegiadas fora do ambiente normal do mercado. Acho curioso não ouvir mais nada a respeito, já que, em qualquer país sério, uma notícia destas automaticamente trancaria a negociação das ações da empresa no mercado até a divulgação de explicações. No Brasil, não apenas as ações continuaram sendo negociadas, como a nota da Petrobrás só saiu no dia seguinte à matéria.

Abraços!

P.S.: Note bem, o crime é a divulgação para o governo por parte da Petrobrás, e não a divulgação da notícia por parte da Folha, que constitui mérito do (cof, cof, cof... desculpe, irritação com o ar-condicionado) jornalista.

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