Pesquisadores de séries de tempo brasileiras, tremei! O IBGE resolveu, de novo, alterar a metodologia de cálculo da série de desemprego brasileira. De acordo com os técnicos do IBGE, a nova série de desemprego será calculada a partir da junção com os dados da PNAD, abrangendo um número maior de cidades, o que é, de fato, relevante.
O problema é que esta não é a primeira mudança importante que o IBGE faz no método de pesquisa das estatísticas de emprego: em 2001, o IBGE fez uma mudança substancial na pesquisa, que resultou em uma mudança de nível e no padrão sazonal na taxa de desemprego, quando comparado com os números da pesquisa antiga. Confirmada as datas apresentadas para a nova pesquisa, os dados antigos formariam uma série de tempo de não mais de doze anos. E doze anos, para quem trabalha com dados de séries de tempo, ainda mais irregulares como os brasileiros, é terrível.
Em termos de análise macroeconômica, o quadro é ainda pior. Se considerarmos apenas o período de estabilização econômica, iniciado na metade de 1994 com o Plano Real, a série de tempo do desemprego terá três momentos completamente distintos:
1) o período entre junho de 1994 e outubro de 2001, iniciado com a estabilização econômica e terminado com a implementação da série atual de emprego do IBGE;
2) o período entre outubro de 2001 e algum mês de 2013, quando a atual pesquisa seria substituída pela metodologia nova;
3) o período que começa em 2013, que durará até o IBGE resolver atualizar novamente a metodologia de pesquisa de emprego sem manter nenhuma correlação com as séries anteriores, como feito nos outros dois casos anteriores.
Que problemas estas mudanças trazem? Óbvio que, para a análise de conjuntura, muito pouco. Entretanto, análises um pouco mais elaboradas, mesmo regras de bolso, como a "Lei de Okun", ficam com as estimativas prejudicadas.
Os dados produzidos pela nova pesquisa, repito, com certeza terão mais qualidade que os atuais. Entretanto, seria muito interessante se o IBGE pudesse manter a pesquisa atual por um período superior aos dois anos que o instituto pretende, de acordo com o seu planejamento.
Não surpreende, de fato, que pesquisadores brasileiros façam pesquisa de boa qualidade com dados transversais (normalmente da PNAD), mas fiquem tanto a dever no quesito séries de tempo.
Abraços!