Dois argentinos, um brasileiro, dois búlgaros e um ucraniano saem para almoçar, todos estudantes de economia. Era o dia seguinte à morte de Pinochet, e o assunto veio a tona, evoluindo para discussões aborrecidas sobre "direita/esquerda".
Diálogo:
[Argentino 1] — As políticas de esquerda, de um modo geral, não tem como dar certo: é controle demais sobre a economia.
[Búlgaro 1] — Você está se referindo a que tipo de política?
[Argentino 1] — As tradicionais, baseadas em forte intervenção do Estado, estatização de empresas, controles rígidos de capital.
[Búlgaro 2] — Bom, mas então não se deve generalizar isto como "política de esquerda", já que é possível elaborar uma política dita "de esquerda" sem partir para soluções socialistas ou comunistas. Vide, por exemplo, os países nórdicos da Europa, ou o próprio Partido Democrata aqui nos Estados Unidos...
[Argentino 2] — Mas como você pode falar de "políticas de esquerda" sem se referir à socialismo e Marx?!
[Búlgaro 1] — E por que eu preciso de Marx e socialismo para fazer uma política não-liberal?
[Argentino 1] — Isto não é possível: se você é de esquerda, precisa entender, ler e pensar em Marx!
[Ucraniano] — Para que eu preciso disto? Todos os países europeus, inclusive os do Leste Europeu, já abandonaram este viés socialista...
[Argentino 1, já um pouco exaltado] — Eu não compreendo o que você está falando!!!
[Brasileiro, para os colegas do Leste Europeu] — Deixa eu tentar explicar uma coisa: a América Latina ainda possui esta concepção de pensamento de esquerda atrelada ao socialismo muito enraizada. Basta lembrar que, nas últimas eleições do Brasil, uma candidata obteve mais ou menos 10% dos votos no primeiro turno com um programa que ainda falava sobre revolução proletária e estatização dos meios de comunicação...
[Búlgaro 2] — Que horror!!!
[Brasileiro, para os colegas argentinos] — Dá para entender agora porque a América Latina está onde está? Se até eles, ex-membros da Cortina de Ferro, ficam apavorados com as propostas que nós ouvimos e lemos nos jornais todos os dias, não dá para ter muitas esperanças sobre o continente, certo?
Abraços!
Eh eh eh. Realmente é difícil.
ResponderExcluirMas bateu uma dúvida: o que seriam então "políticas de esquerda" e por que elas são exclusivamente "de esquerda"?
Tem que perguntar ao Búlgaro1 no próximo bate-papo. ;-)
Acredito que ele se refira, especialmente, ao sistema de educação e saúde dos nórdicos, que é estatal quase que por completo. Agora, há de concordar que a mudança de mentalidade nos países adiante do muro é muito grande: saudosismo algum do regime comunista.
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