novembro 28, 2007

Credibilidade

Estuda-se muito em política monetária a questão da credibilidade, em especial sobre o quanto um banco central deve se mostrar inflexível no cumprimento das metas monetárias de forma a se fazer crível pela sociedade. Credibilidade, obviamente, também é um fator importante em outras áreas — como a política, por exemplo. Qualquer planejamento em relação ao futuro que dependa da decisão de outros agentes deve ser baseada em algum nível de crença com relação ao comportamento do outro.

O noticiário recente sobre as negociações em torno da CPMF dá conta de que o governo resolveu guardar na gaveta alguns projetos que estariam prontos para ser encaminhados ao Congresso, sugerindo que a suposta falta de verba gerada pelo fim do imposto poderia prejudicar projetos futuros. A pergunta que deve ser feita, neste caso, é a mesma feita quando se avalia a questão de "veracidade" das ações futuras em economia: esta ação do governo, adiando o envio de projetos, é crível? Ou, em outras palavras, o governo tem credibilidade nesta ameaça de suspender projetos caso o imposto não seja aprovado? Vejamos:

  1. Se os projetos do governo tiverem um impacto substancial na economia, como o de política industrial, ele não tem por que deixar de enviar os projetos.
  2. Se os projetos do governo servirem para consolidar a sua base de apoio no Congresso e na sociedade, como o aumento salarial para alguns setores do funcionalismo público, ele não tem por que deixar de enviar os projetos.
  3. Se os projetos do governo garantirem algumas inaugurações para daqui a dois ou três anos, mostrando perto das eleições para presidente que o governo foi eficiente, ele não tem por que deixar de enviar os projetos.
  4. Se os projetos do governo servirem como moeda de troca para parlamentares na comissão de orçamento, por exemplo, ele não tem por que deixar de enviar os projetos.


Logo, qual a credibilidade de um governo que ameaça não fazer medidas que lhe seriam úteis? Resposta: nenhuma. O governo não vai deixar de cumprir seus projetos se a CPMF não for aprovada, não se preocupem.

Abraços!

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