Já elogiei por aqui algumas colunas na Folha Online do jornalista Fernando Canzian, correspondente do jornal aqui nos Estados Unidos (aqui e aqui). Na coluna deste domingo, não dá. Mesmo.
Comemorando (???) o primeiro aniversário da crise econômica, o jornalista propõe uma análise de "vencedores x vencidos" desde o início da recessão. Na lista dos "vencedores", três vilões eternos das esquerdas: os banqueiros, os bancos e os investidores do mercado financeiro (sim, a coluna está ruim deste jeito). Os banqueiros ganharam, pois não foram presos; os bancos ganharam porque foram salvos; e os investidores que mantiveram posições em ações ganharam porque as ações começaram a subir de novo.
Na lista dos vencidos, o "povo" (chamado pelo jornalista de "a grande maioria") e Barack Obama. "A grande maioria" perde porque terá que pagar mais impostos para financiar o salvamento dos bancos e porque vai conviver com mais tempo de desemprego elevado. Barack Obama perde porque a economia fraca derruba os seus índices de popularidade.
Por partes:
1) banqueiros devem ser presos por empréstimos alavancados tanto quanto políticos de Washington que criaram leis permitindo que Fannie Mae e Freddy Mac fizessem empréstimos sob critérios (e riscos) semelhantes. Ou seja, não devem ser presos, basicamente, porque, por mais imoral que seja a conduta, seus comportamentos foram legais. A diferença pode ser sutil no hemisfério sul, mas faz toda a diferença sob o chamado "Estado democrático de direito".
2) os bancos se recuperaram porque o valor de seus ativos parou de cair, e por tomar vantagem em transações que apenas grandes operadores têm acesso (não subestime o crescimento do faturamento das instituições sob o chamado "high-frequency trading" neste período de estabilização/retomada dos preços dos ativos). Cabe lembrar que alguns dos bancos ajudados já pagaram pelo auxílio governamental, para não ter supervisão governamental adicional.
3) os investidores que mantiveram posições estão tão bem quanto os bancos. Fizeram uma aposta, mantiveram posições. Se tivessem vendido, estariam mal. Qual o problema em especular corretamente? Se não foi feito através de operações ilegais (informações privilegiadas, etc), qual o problema?
4) "a grande maioria" está perdendo, mas ganhou quando pode fazer os empréstimos para comprar casas maiores; "a grande maioria" está perdendo, mas ganhou quando pagou menos impostos para financiar um nível de gastos do governo claramente incompatível; "a grande maioria" está perdendo, mas aqueles que mantiveram suas posições em ações (ver o item 3) estão ganhando uma folga no valor dos seus ativos.
5) Barack Obama está perdendo por causa das discussões sobre o sistema de saúde. A proposta do governo, talvez mais do que toda a ajuda que foi oferecida aos bancos, é capaz de levantar o endividamento americano para níveis aí sim substanciais. Saúde é um problema sério no país, consome uma parcela cada vez maior do orçamento das famílias americanas, mas a forma como o governo conduz o debate é, para dizer o mínimo, catastrófica. E aí está a raíz da impopularidade de Obama.
Além disso, para seguir a lógica deturpada de Canzian, Obama estaria se dando um tiro no pé, ao reapontar Bernanke para o novo mandato no Fed - justamente o arquiteto da ajuda governamental aos bancos. Ou seja, a culpa pela falta de popularidade de Obama seria... Barack Obama!
Ai, ai, ai... assim, não, Canzian.
Abraços!
"Hazard - 1. A hazard is something which could be dangerous to you, your health or safety, or your plans of reputation. (...) 2. If you hazard or if you hazard a guess, you make a suggestion about something which is only a guess and which you might be wrong." - Do Dicionário "Collins Cobuild"
setembro 13, 2009
Assim, Não, Canzian
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Um comentário:
E o correspondente do Globo que disse que Obama perde popularidade porque está se alinhando com "os setores mais conservadores da sociedade"? Esse pessoal poderia poupar uma grana dos seus empregadores escrevendo essas bobagens do Brasil mesmo.
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