Ônibus queimados no Rio de Janeiro não constitui nenhuma novidade em termos de noticiário. Entretanto, a capa da Folha Online de hoje me chamou a atenção pela mudança de linguagem. Observem:
O que está diferente? Comparem com a linguagem nesta notícia, de 2002. Mesmo que ônibus tenham sido queimados em ambos os casos, antes quem queimava ônibus era um "morador" da zona norte do Rio; agora, quem queima ônibus e derruba helicóptero da polícia é "criminoso". Qual a diferença entre os casos? O helicóptero da polícia, óbvio.
Com este procedimento, a Folha estabelece um limiar para a determinação do que é, efetivamente, um crime: derrubou helicóptero da polícia, é criminoso; "só" queimou ônibus, é morador fazendo protesto. Será o helicóptero efetivamente o limite? Se, além dos ônibus queimados, um carro da polícia fosse danificado também, os marginais seriam ainda chamados de "moradores", ou já seriam "criminosos"? E se fossem dois carros da polícia? Ou, se ao invés de um helicóptero, os marginais tivessem explodido um dos "caveirões" do BOPE, seriam ainda "criminosos" ou passariam a "moradores"? Quantos ônibus precisam ser queimados para um "morador" equivaler a um "criminoso", na terminologia da Folha Online? (Com certeza, mais do que sete, pela notícia de 2002...)
Sinceramente, não quero muitos exemplos para que a Folha possa testar as suas classificações de dicionário de jornalismo: ficaria bem contente se criminosos fossem chamados de "criminosos", e moradores fossem chamados de "moradores".
Abraços!
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