Título alternativo: não brigue pelos décimos de percentual; brigue pelo percentual.
Muita gente falou, no final do ano passado e no início deste ano (exemplo aqui), da mudança de pesos que o IBGE implementou com a nova Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) baseada nos anos de 2008 e 2009. As análises inclusive citam a conveniência da revisão de pesos exatamente a partir do ano em que a inflação ficou exatamente no limiar da meta, desconsiderando que a revisão é feita a cada cinco anos e que neste ano os pesos derivados da POF ficaram prontos.
Eu, honestamente, não tenho motivo algum para contestar qualquer número produzido pelo IBGE. Sim, existem problemas na divulgação de resultados, mas do número em si, até agora, nada a duvidar. Não que eu seja, exatamente, um especialista em pesquisas de preços, mas acho que o mercado pode, sim, exercer um papel fiscalizador no cálculo dos preços. Existem, no país, diversos sistemas privados que fazem acompanhamentos online dos preços nas principais redes varejistas, permitindo uma boa aproximação do valor final do IPCA no mês. E o mercado possui, sim, incentivos para acompanhar de perto estes preços: basta ver, por exemplo, a composição da dívida pública federal, onde, de acordo com o relatório de dezembro, quase 79% era formada por títulos pré-fixados (que perdem com aumentos inesperados da inflação) e 16.5% era formada por títulos indexados a índices de preços.
Um acompanhamento em tempo real sobre preços publicados online é feito pela empresa PriceStats, dos professores Roberto Rigobon (MIT) e Alberto Cavallo. A revista The Economist, usando os dados desta empresa, justifica o abandono do uso de índices oficiais de inflação para analisar a economia da Argentina neste gráfico. Em nenhum outro país dentre os oito citados na amostra, a diferença entre o índice oficial e o índice de preços da PriceStats é tão grande quanto na Argentina.
Chama a atenção, no mesmo gráfico, a diferença mínima entre as médias anuais de inflação publicadas pelo IBGE e pelo PriceStats. Na verdade, a média de inflação do PriceStats é até menor que os valores oficiais, sendo que o Brasil é o país, na amostra, com o maior número de observações coletadas (41 meses, contra 32 nos Estados Unidos e 40 na Argentina, por exemplo). Para os desconfiados, o acompanhamento de preços em sistemas como este, ou mesmo com índices como os da FGV, podem servir como contra-prova para os valores oficiais dados pelo IBGE.
Acredito que a discussão perdeu um tanto o foco quando o índice de dezembro determinaria se a inflação de 2011 ficaria ou não dentro das bandas determinadas pelo regime de metas. Gerou mais desconfiança ainda quando o valor ficou incrivelmente próximo do necessário para que a inflação ainda permanecesse dentro das bandas, ainda que um outro blogueiro tenha gerado uma projeção exatamente com o valor publicado pelo IBGE! O importante do debate, e que ficou de lado, é que a inflação acumulada em 12 meses nunca esteve abaixo do centro ao longo de 2011. Trazer o IBGE para a disputa por causa de 0.3% ou 0.5% com a nova POF é culpar o mensageiro pelas notícias ruins.
Saudações.
Um comentário:
Excelente post, Angelo.
Abraço,
Rodrigo
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