Fim do dia, a cabeça dói, o cérebro se esforça para manter a coerência. Vou pegar o ônibus para iniciar a marcha para o oeste, para minha casa - sim, esta é uma crônica de ônibus - malditos aborrescentes da graduação que se empurram para fazer o caminho direto. São americanos. Americanos são diretos, frases curtas, perguntas mascadas, mas sempre objetivas; latinos falam, falam muito, expressivos, gestos largos - italianos, espanhóis, argentinos, os brasileiros que conheço falam por blogs ou por gestos comedidos, pétreos; droga de cabeça, continua a doer, indianos são polidos, também de gestos largos, mas de extrema educação, observam o movimento doentio dos malditos graduandos; chineses falam chinês: sala de aula, ruas, rodas de discussão, manifestações, poucos gritos, mas chineses falam chinês.
Pego o ônibus que faz algumas paradas a mais antes da chegada no oásis ocidental. Não sou direto, tenho tempo, pouco, preciso do tempo. Americanos são diretos, se amontoam no ônibus que faz o caminho mais rápido, não respiram, seguem a sua rotina, cumprem o mandado, meta traçada, objetivo a ser cumprido. Ônibus mais vazio. Colega chinesa senta na minha frente. Não fala nada, chineses falam chinês, taiwaneses falam muito, também em inglês. Chineses sozinhos não falam, minha colega não fala; chineses em gurpo falam muito, chineses falam em chinês, sempre; chineses pseudo-fake-americanos com cabelos coloridos, tênis Nike produzido por conterrâneos, camisetas da faculdade, falam muito, gritam alto, em chinês. A cabeça dói, música por favor, que se sobreponha ao barulho do ônibus, agora em movimento. A marcha para o oeste inicia. Malditas turbas: graduandos que perderam o ônibus que ia direto agora falam aos gritos na minha condução; chineses americanizados gritam em chinês; chineses falam em chinês, sempre.
Cabeça girando, a viagem está em curso. "It's the end of the world as we know it", e eu estava bem no Brasil. Estou melhor agora, tenho que estar melhor, estar melhor à tempo do que está por vir. A cabeça dói. Chineses falam em chinês, sempre. Em grupos. Sozinhos, se fecham em seus mundos: iPods, palavras novas, acho que não faço questão de aprendê-las, onde estão os outros chineses? Eu estou aqui, o peso de uma semana densa, o corpo refletido em dor de cabeça, enquanto a marcha segue o seu caminho tortuoso. A música alivia: "follow the God that failed". Mas, se Ele falhou, posso ficar aliviado? Não, isto é imperdoável, como não teve perdão a cabeça, a cabeça dói muito. Sono é necessário, boas noites de sono, ponderadas por pensamentos a respeito do que está por vir. A viagem mais longa do ônibus permite organizar as idéias, a música é o meu elixir. Estudo economia, penso em economia, matemática, mas "Natural Sciences" também são importantes, deixe a roda continuar rodando, a viagem seguindo o seu caminho.
A catedral do oeste já está à vista, a marcha para o oeste parece estar chegando ao seu final. Americanos querem fazer o movimento de volta: as turbas se espremem no entorno do ônibus, quero sair, porra!!!, a cabeça dói, a música acaba, o mundo volta ao normal. Chineses falam chinês, sempre. Americanos são diretos, querem cumprir os seus objetivos. Eu só quero a minha cama, descanso, dois minutos de um repouso que para mim parece ser eterno.
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