Um estudo que apareceu na tv por aqui chamou muito a atenção, e os resultados são interessantíssimos para quem se interessa pelo papel dos incentivos na organização e desempenho econômico individual (alô Shikida!!!!). Jennifer Brown, estudante de doutorado de Berkley, comparou e mediu, com uma econometria até bem básica (quem disse que econometria avançada é condição indispensável para testar hipóteses mais complexas?) o efeito da presença de um competidor de desempenho esperado muito acima da média entre os demais. O caso não poderia ter sido melhor: Brown constata que o desempenho médio de jogadores de golfe de elite é significativamente piorado quando Tiger Woods está presente nas competições.
Por que o exemplo é bom? Três motivos básicos:
1) Desempenho em golfe é facilmente mensurável: o desempenho de um jogador é medido através do número de tacadas que o jogador gastou para fazer todo o percurso. Como as exigências em termos de número de tacadas para cada jogador é a mesma, a comparação entre jogadores é óbvia. Além disso, tal como no tênis, a premiação é feita por torneio a partir da colocação. Ou seja, avaliar o ganho esperado é bem mais fácil, porque mensurável.
2) O desempenho de um jogador não é condicionado às ações dos outros: fazer a mesma comparação em outros esportes não avalia, exatamente, o desempenho e o esforço individual, já que o desempenho dos seus adversários pode anular o seu esforço. Exemplo disso é o basquete: alguém poderia argumentar que o mesmo estudo poderia ser repetido nos jogos em que Michael Jordan esteve na quadra. O problema é que, com ele em quadra, a exigência em termos de esforço individual para produzir os mesmos números é muito maior, não apenas por ele jogar muito bem no ataque, mas por ser um excelente marcador. Assim, um jogador que, sem ele na quadra, fazia em média 20 pontos por partida, poderia fazer 15 pontos e sair satisfeito, se ele impedisse que Jordan fizesse os seus 30 pontos de média. No golfe, não existe esta interação: Tiger Woods não vai acertar uma tacada na cabeça de um jogador que o ameace no torneio.
3) Tiger Woods é o cara: talvez em nenhum esporte um jogador foi tão dominante quanto Tiger Woods está sendo para o golfe. Qualquer comparação, tanto entre seus pares atuais, quanto ao longo do tempo, favorece o fenômeno. No basquete, existe sempre a discussão sobre o quanto os outros times eram mais fracos a ponto de constituir o fenômeno Michael Jordan; no futebol, Pelé foi um fenômeno, mas em uma época que a preparação física não era exigida dos jogadores; no futebol americano, Peyton Manning e Tom Brady estão quebrando sucessivos recordes até então inimagináveis (número de touchdowns por temporada, número de jardas passadas, etc), e ainda existe o debate sobre quem é o melhor. No golfe, é Tiger Woods e o resto. Ponto.
Qual a explicação para o desempenho inferior dos demais jogadores de elite quanto Tiger Woods está no campeonato? A autora se concentra na questão da premiação esperada. Fatores como maior número de jogadas de risco para tentar atingir o nível de Tiger são facilmente controláveis em análise de regressão. Além disso, outros fatores que interferem em um campeonato, como condições do tempo, também são controlados.
Em que o estudo é útil? Imagine que você coordene uma equipe de funcionários, e resolva implementar um esquema de premiação por desempenho para sua equipe. O resultado é sempre positivo? A resposta é um sonoro "DEPENDE". Se a premiação levar em conta a heterogeneidade da qualidade da equipe, os resultados podem ser bons. Senão, as chances pequenas de atingir a maior premiação podem desmotivar toda a equipe e sobrecarregar o seu melhor funcionário.
Abraço!
2 comentários:
Nenhum post sobre futebol... soccer...
Gremio, gauchão, copa do brasil... nada?
Foi pros States e largou o esporte bretão?
abraço
Menin
Pronto, está comentado.
Abraço!
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