outubro 29, 2006

Sirvam Nossas Façanhas de Modelo à Toda Terra

Sempre ouvi de muita gente que não é possível entender no que os gaúchos se acham diferentes dos demais, que existe um orgulho exacerbado acerca do que se faz, que tudo no sul é sempre sobrevalorizado. Quero chamar a atenção para alguns fatos que mostram uma área onde nós, gaúchos, somos especialmente diferentes do resto do país: ao contrário de certos partidos que berram para si o chavão, no RS somos “contra tudo isto que está aí”, em toda e qualquer situação. Com a eleição de uma governadora do PSDB, o RS radicaliza em termos de oposição aos governos centrais de uma forma poucas vezes vistas em eleições passadas.

Para provar este ponto, vou destacar os resultados das últimas seis eleições para governador, sempre contrastando com o resultado nacional:

- 1982: auge do movimento pela democratização. A oposição ao regime vence as eleições nos estados mais importantes. No RS, o eleito (Jair Soares) é do PDS, antiga Arena.

- 1986: na euforia do Cruzado, o RS entra na onda do PMDB e elege Pedro Simon governador.

- 1990: no auge do “fenômeno Collor”, o RS dá a menor votação do país para o eleito no primeiro turno (vale lembrar que Brizola era candidato), e a segunda menor no segundo turno (só sendo superado pelo Rio de Janeiro). O governador eleito é Alceu Collares, do PDT, oposição ao governo central.

- 1994: no RS, apesar do Plano Real, Lula ganha as eleições para presidente. Antônio Britto é eleito governador.

- 1998: nas eleições nacionais, Lula ganha novamente de Fernando Henrique no RS, que elege Olívio Dutra governador (de novo, oposição ao governo central).

- 2002: no auge da “onda vermelha”, Lula tem uma das menores diferenças no RS em relação ao seu oponente (tanto em termos históricos quanto na comparação RS contra os demais estados). O RS elege Germano Rigotto governador, oposição ao governo central.

Síntese dos dados: quando não elegeu um governador de oposição (1986 e 1994), o RS sempre ofereceu algumas das menores votações para o candidato eleito para o cargo de presidente. Com Yeda, o RS vai fazer uma das maiores radicalizações em termos de oposição ao candidato da maioria do país, ao rejeitar não apenas o partido do presidente reeleito, mas também o governo estadual de um partido mutante e fracionado como o PMDB. Outra tradição é quebrada: nunca o governador no poder do RS foi sucedido por alguém do mesmo campo político, configurando uma alternância de poder única.

Por que o título do post, baseado em verso do Hino Riograndense? Poderia simplificar a resposta, perguntando se você está contente com o Brasil de hoje, imaginando que a resposta seja tão negativa quanto a minha, e dizendo que o RS sempre manifestou, através do voto, a sua insatisfação – e o fato de ser sempre no voto é um orgulho no país do mensalão, da compra de dossiês, das tentativas de calar a imprensa.

Dá orgulho de ser gaúcho ao constatar que, mais uma vez, o RS dá o seu recado ao Brasil. Este recado começou a ser dado nas eleições para governador de 2002, passou pelas municipais de 2004, com o PT perdendo a prefeitura de Porto Alegre, e agora ao chega ao auge nestas eleições.

Abraços!

P.S.: os dados sobre votação e proporção de votos para presidente foram extraídos deste artigo. Das eleições mais recentes, o TRE-RS também tem uma ótima compilação de dados.

2 comentários:

Anônimo disse...

Nossaaaa... que comentário hein?! "De modelo a toda terra"... rsrrs... bjão querido e boa semana!

Anônimo disse...

depois de ler este post, só tenho uma coisa a dizer (ou melhor, repetir): sendo casada com um gaúcho, eu tenho direito a cidadania gauchesca??????? ;-)
beijos!
TE AMO!