abril 30, 2007

Surtos

Tenho escrito pouco. Boas razões: chegou a época dos exames. Depois de uma semana concentrado nos estudos para as provas finais, uma semana de provas. Como se uma semana fosse o suficiente para recuperar o que se estudou em um semestre, como se o semestre do ensino americano fosse parecido com o semestre brasileiro... Uma semana em que se extrai tudo, o conhecimento que não aparece, aquele que aparece sem sabermos de onde. Uma semana em que descansar é impossível, e relaxar depois do dever cumprido é um luxo de poucos, quase de ninguém. O martírio semestral segue. Semestres americanos não são parecidos com os brasileiros. Seguem os surtos.

Abraços!

abril 24, 2007

Basquete e Economia

Um aspecto destacado quando se discute por que o futebol não é popular nos Estados Unidos é a baixa contagem dos placares em jogos do esporte bretão. Existe um outro aspecto, técnico, que acredito ser pouco explorado quando se compara a popularidade entre esportes por aqui: os três esportes mais populares dos Estados Unidos, quando jogados em alto nível, caracterizam-se pela clara definição sobre a posse de bola durante a partida. No basquete, o time que está atacando possui 24 segundos para fazer o seu arremesso, e o controle de bola é vital para o andamento da jogada; no futebol americano, a posse de bola é tão bem caracterizada que existe o time de ataque, o time de defesa e os times especiais (que fazem a transição da posse de bola entre ataque e defesa); no baseball, o time que está rebatendo ataca, enquanto que o time que arremessa trata de se defender. No futebol, situações comuns de jogo envolvem, por exemplo, após um erro no andamento da jogada de ataque, o zagueiro dar um chutão na bola para fora do campo, e a posse de bola volta para o time que estava originalmente atacando.

Onde eu quero chegar com isto? Pois bem, o fato dos esportes daqui possuírem uma caracterização muito precisa sobre qual time (e qual jogador) possui o controle da bola gera uma externalidade apreciada pelos ianques: as estatísticas. Por mais que a Globo se esforce, por mais que os plantões de rádio façam os levantamentos, nada se compara à oferta de números a respeito de um esporte como o que qualquer mortal tem disponível por aqui. E aí chegamos ao uso das estatísticas: um jornalista resolveu juntar um grupo de especialistas em econometria, estatística e esportes para que fizessem as suas projeções sobre os playoffs do basquete profissional de acordo com os seus números e índices. O resultado foi este, claramente inspirado, como o próprio texto diz, no fenômeno Freakonomics. Não deixa de ser interessante a comparação de projeções (ainda que a técnica utilizada não seja explicitada), já que os palpiteiros são, por exemplo, um professor de economia da California State University, um professor de estatística de Ohio State, dois criadores de sites com estatísticas sobre basquete, e a mãe de um dos jornalistas. Ou seja, desde a opinião dos profissionais do basquete, da estatística e um palpite completamente amador.

A paixão do americano pelo esporte acho que só pode ser diretamente comparada com a sua paixão pela estatística.

Abraços!

abril 23, 2007

Boletim do Basquete - Breaking News

"Lee-AN-dro BAR-bow-sa" is on fire!!! O "Brazilian Blur" venceu o prêmio de melhor reserva da temporada 2006/07 da NBA. Talvez os jornais no Brasil não dêem o devido destaque, já que o prêmio de melhor reserva do campeonato pode ter para alguns um aspecto menor. Mas vale pensar o seguinte: quantas substituições são feitas em um único jogo de basquete? Vale lembrar que Leandrinho está jogando em um dos favoritos para o título e é sempre o primeiro dos reservas a ir para a quadra.
Uma noção mais exata sobre o que significa o prêmio são as declarações feitas por gente como Kobe Bryant e Phil Jackson a respeito de Leandrinho.
Um orgulho!

Abraços!

abril 19, 2007

Boletim do Basquete

- Preparação para os play-offs da NBA: meus palpites em letras maiúsculas. No leste, BULLS sobre o Heat (4-2); PISTONS sobre o Magic (4-0); RAPTORS sobre o Nets (4-3); CAVALIERS sobre o Wizards (4-0). No oeste, ROCKETS sobre o Jazz (4-2); SUNS sobre o Lakers (4-1); SPURS sobre o Nuggets (4-3, a melhor série da primeira rodada!); MAVERICKS sobre o Warriors (4-1). Começa neste sábado!

- Já pensando no ano que vem, dois jogadores para serem observados no próximo recrutamento: Greg Oden e Kevin Durant. Achei que fosse papo de jornalista para valorizar a cerimônia do recrutamento, mas depois de ver o campeonato universitário... que coisa!
Oden é pivô, está deixando a universidade após apenas um ano de curso para a NBA, teve no único ano de universidade médias de pontos e rebotes superiores ou equivalentes a jogadores como Patrick Ewing e Hakeen Olajuwon em período equivalente. Detalhe: jogou todo o primeiro ano com o pulso da mão direita enfaixada por uma lesão. Com isto, ele se obrigava a fazer arremessos de lance livre com a mão trocada, além de se preservar alguns movimentos mais bruscos.
Durant já recebeu diversos adjetivos para compará-lo com outros profissionais: Kevin Garnett com arremesso de três pontos, Tracy McGrady com melhor físico, Dirk Nowitzki com melhor controle de bola... É um fora de série. Como diz um colunista daqui, ele joga com aquela cara de "estou acabando com o jogo, destruindo a defesa adversária sozinho, tudo isto em rede nacional de televisão, e eu não estou nem aí: vou continuar fazendo".

- Fantasy Basketball: acabou a temporada junto com a temporada regular. Vocês conhecem Willie Green? Nem eu. E querem saber? Ontem, ele (terceiro reserva da rotação do Philadelphia) fez 37 pontos e 5 cestas de três pontos, me dando o título da liga de Fantasy dos alunos do primeiro ano de economia de Duke! Foi o movimento mais bizarro que qualquer um dos meus colegas já viu: a série final estava empatada, tudo seria decidido no último dia; resolvi apostar na vitória através do número de três pontos marcados, e achei que Green poderia contribuir com uma ou duas cestas para ajudar na soma das cestas. Pois ganhei o campeonato com sobras por causa de um cara que jogou a partida da vida dele! Andrew, meu colega que enfrentei na final, só dizia que não tinha problema algum perder, já que o meu time foi melhor que o dele durante a temporada toda, mas perder deste jeito era que doía!!!

Abraços!

abril 16, 2007

Perguntinha

Para quem acha que crime é uma questão de renda (pessoas pobres "vão" para o crime), uma pergunta: por que em uma universidade localizada em um Estado rico (nono lugar em renda per capita nos US), cuja composição étnica é comparável diretamente com os "brancos" de Duke ou de Harvard, além da qualidade na formação de cadetes, um estudante pega uma arma e mata ao menos 33 de seus colegas? Se a pobreza leva para o crime, por que isto acontece?

Abraços!

Para os Apaixonados por Apostas

Que coisa ridiculamente inútil!!!! É tão ridículo que chega a ser divertido. E tem gente por aqui que está fazendo apostas com isto...

Abraços!

abril 13, 2007

Durham, Um Ano Atrás

A cidade ferveu com o caso dos garotos do time de lacrosse de Duke, acusados de estuprar uma stripper negra, que agora, depois de toda a comoção, chega ao fim de forma surpreendente para quem estava aqui na época: existia a certeza de que eles eram culpados, e que a pobre garota negra estava apenas fazendo o seu trabalho. Síntese da história aqui.

E depois vem ministra brasileira dizendo que o Brasil tem problemas de racismo...

Abraços!

P.S.: não quero aqui afirmar que os rapazes também são santos. Porém é forçar muito a barra trazer um problema racial para encobrir e dar peso a uma investigação que deveria ter sido rápida.

abril 12, 2007

Imbatível

Que beleza esta notícia!!! E estes rankings não aparecem com a mesma naturalidade que outros comparando o crescimento do Brasil com outros da América Latina. Tinha um ex-presidente de Banco Central que escreveu uma nota tempos atrás, na VEJA. fazendo o mesmo tipo de argumento. Ele era taxado de louco, mas o ponto principal ainda vale: parece que falar que tivemos uma hiper-inflação nos anos 90 e atribuir a isto muitos de nossos atuais males econômicos é algo tão grave quanto falar da "peste" (lepra) nos tempos medievais - apenas em voz baixa, tom pesaroso, como se a morte já estivesse decretada, e não repete esta palavra senão atrai...
O detalhe é que, ainda que tenha melhorado muito, com todas as condições externas favoráveis ultimamente, ainda estamos na 24ª posição no painel de países avaliados pelo Bradesco. Falta muito para eliminar de vez as cicatrizes "da peste"...

Abraços!

abril 08, 2007

With a Little Help From My Friends

Uma música que acho que diz muito do que estou passando por agora. Lógico que a interpretação que tenho na cabeça é a de Joe Cocker (uma versão menos "trash" aqui), ao invés da original por Ringo Starr nos Beatles. Oh, a propósito, a única correção na letra que eu faria: I DO have someone to love now...

With a Little Help From My Friends

Por Ringo Starr

What would you think if I sang out of tune,
Would you stand up and walk out on me ?
Lend me your ears and I'll sing you a song
And I'll try not to sing out of key.

Oh, I get by with a little help from my friends
Mm, I get high with a little help from my friends
Mm, gonna try with a little help from my friends

What do I do when my love is away
(Does it worry you to be alone ?)
How do I feel by the end of the day,
(Are you sad because you're on your own ?)

No, I get by with a little help from my friends
Mm, I get high with a little help from my friends
Mm, gonna try with a little help from my friends

Do you need anybody
I need somebody to love
Could it be anybody
I want somebody to love.

Would you believe in a love at first sight
Yes, I'm certain that it happens all the time
What do you see when you turn out the light
I can't tell you but I know it's mine,

Oh, I get by with a little help from my friends
Mm, I get high with a little help from my friends
Mm, gonna try with a little help from my friends

Do you need anybody
I just need someone to love
Could it be anybody
I want somebody to love.

Oh, I get by with a little help from my friends
with a little help from my friends.

Obrigado aos amigos, tanto dos EUA quanto os do Brasil.

Abraços!

abril 06, 2007

Aprendendo...

... a conhecer (e reconhecer) meus limites.

... a fazer amizades como conseqüência das horas trancados em sala de estudos lendo.

... a curtir mais um lugar que me recebeu para fazer o que gosto, estudando o que mais aprecio.

... a fazer sacrifícios para que o objetivo maior seja alcançado.

... que a mente, muitas vezes, precisa de mais descanso que o corpo.

... que o exercício físico é um excelente descanso para a cabeça.

... que fazer o máximo, o tempo todo, recompensa.

Estou feliz. Minha melhor fase nos EUA.

Abraços!

Rush in Raleigh


Estaremos lá!


Abraços!

abril 01, 2007

Racismo

A atual ministra da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, sra. Matilde Ribeiro, está me fazendo o desfavor de acabar com um dos (atualmente poucos) motivos que tenho para me orgulhar do Brasil: a declaração dela a respeito do desgosto contra "quem o açoitou" é apenas mais um exemplo da (des)organização social e política estabelecida desde o início do atual governo.

Por que falar nisto era um orgulho? Não me lembro exatamente como a conversa começou na sala de estudos, mas meus colegas estavam discutindo algo como política de quotas em universidades, e a convivência entre negros e brancos nos Estados Unidos. Tudo em um nível de normalidade, como se não fosse (e é) chocante a separação entre raças no convívio social americano. Nunca fiz referências antes, mas uma das cenas mais impressionantes no ônibus que circula no campus é exatamente a separação de grupos de estudantes a partir da raça: entram os negros, ficam todos juntos conversando entre si; entram os brancos, ficam todos juntos conversando entre si; entram os asiáticos, ficam todos conversando entre si (lembram? Chineses falam chinês...); e não existe contato algum possível entre eles, além de um eventual "sorry" por um esbarrão, ou um "excuse me" pedindo espaço para chegar até a porta de saída do ônibus.

Costumo, até, fazer uma brincadeira sobre a divisão racial na Carolina do Norte que reflete bem a visão "de fora" do povo daqui: na maioria dos estabelecimentos comerciais, o branco é o dono do lugar, o negro é o gerente, o chinês é o cliente, enquanto o latino é o funcionário de mais baixo nível possível da organização, e que ainda fica contente por estar aqui! Parece bem simplificado, mas experimente ir em alguma lancheria de fast-food daqui para entender direito do que estou falando.

A imagem do contraste, especialmente para quem vem do Brasil, é incrível. E tão incrível, que quando fiz esta referência para meus colegas, todos eles disseram que nunca tinham observado a separação por este ângulo (povo jovem, com instrução, mas ainda assim voluntariamente se apartando por raça), e me perguntaram como era no Brasil. Para meu orgulho, pude descrever que venho de um país onde a miscigenação é muito grande, onde quase ninguém pode se identificar como descendente de uma única raça. Óbvio que disse que o preconceito existe (e quem nasceu onde eu nasci, na região onde o povo se refere pejorativamente aos "brasileiros", para se diferenciar dos "italianos" que seríamos, sabe bem do que estou falando – como se a Itália tivesse algum entreposto especial, além da influência lingüistica, sobre aquela região do Brasil), e que é de ambas as partes, mas pude dizer que, mesmo assim, existe a "mistura" e graças à Deus que é assim!

Caramba, como eu saí bem daquela conversa!!! Pude me orgulhar do lugar de onde vim, do que se fez para a formação de um povo em 500 anos, da nossa história. E agora, para o mundo inteiro saber (a entrevista foi feita pela BBC-Brasil), vem uma ministra dizer que, atualmente, o cidadão negro brasileiro pode naturalmente desgostar de um cidadão branco porque o tataravô do seu bisavô foi açoitado durante o período de escravidão. Além de inventar o "açoite intergeneracional", com direito a alto grau de persistência (não tem modelo de "overlapping generation" que possa explicar isto!), a infeliz ainda fica feliz de dizer que agora o Ministério da Saúde está solicitando a identificação de raça em seus formulários, para que "programas específicos" possam atender melhor a população. Como se o problema da saúde pública, agora, fosse também uma questão de raça, ao invés de atendimento. Só falta dizer, também, que negros possuem diferenças fisiológicas fundamentais que justifiquem tratamentos diferenciados. Por volta dos anos 30, apareceu um maluco austríaco na Alemanha falando alguma coisa neste sentido a respeito dos brancos, e contra os negros e judeus. Acho que não acabou em coisa muito boa...

Abraços!

P.S.: a propósito de linguística e o dialeto do Vêneto, para os orgulhosos da minha terra, fiquem sabendo que o "italiano" (língua) que veio para o sul do Brasil é muito mais próximo do espanhol do que do italiano própriamente dito. Ver aqui, comentários sobre algumas flexões verbais, no final da página 4.