abril 19, 2008

China vs Tibet em Duke

Já escrevi uma vez, creio, que o condomínio onde moro é chamado, ironicamente, de Chinatown, devido à quantidade de famílias orientais que moram por aqui. Os chineses daqui possuem uma noção muito particular de propriedade no que diz respeito ao espaço compartilhado do condomínio. Exemplo do que digo, é normal ver brinquedos infantis, poltronas velhas e instrumentos de trabalho jogados no pátio do condomínio. Como as crianças chinesas compartilham os brinquedos, os pais se dão o direito de mantê-los à disposição de todos, à vista de todos, mesmo que esteja na área comum. Da mesma forma, as poltronas velhas, como são ocupadas pelos idosos para suas conversas, ficam em áreas que deveriam ser de livre trânsito dos moradores. Outro exemplo são as hortas cultivadas pelos idosos nos fundos da casa. Christiane odeia isto, mas um pedaço do nosso jardim foi ocupado por nosso vizinho para a sua horta de tempero verde e salsinha. Eu não reclamo: não cuido, não tenho tempo para cuidar do jardim. Entretanto, sim, me sinto atingido, pois, afinal, é um espaço a que tenho direito por estar alugando a casa.

Toda esta longa introdução serve para contar um episódio que ainda dá o que falar por aqui. No dia dos protestos contra a passagem da tocha olímpica por São Francisco, um grupo de estudantes de Duke resolveu organizar um protesto contra a violação dos direitos humanos no Tibet. Ao saber do protesto, a Associação de Estudantes Chineses da universidade organizou um movimento a ser realizado na mesma hora, no mesmo local (em frente à igreja da universidade) e com um número muito maior de participantes, buscando, nas palavras de um dos seus organizadores, "expressar o desacordo quanto às intenções de misturar política com Olimpíadas e boicotar as Olimpíadas de Beijing com base em desculpas políticas baseadas em fatos distorcidos".

Sinceramente, não me incomoda o fato de existir um protesto pró-China, um protesto pró-Tibet, ou qualquer protesto. De fato, não dou a menor importância para a questão China-Tibet, outros assuntos me interessam mais. Agora, a reação dos chineses ao protesto me incomodou, não por ter sido feita, mas por se sobrepor à manifestação em uma área pública que havia sido originalmente reservada para isto. Os gritos de "liars, liars" e a sobreposição de bandeiras, por mais que argumentem o contrário, eram uma forma agressiva de mostrar o seu ponto de vista: se sou contra uma posição, por que tenho que impedir meu oponente de falar?

E aqui volto ao ponto do comportamento chinês em áreas comuns: a despeito da área em frente à igreja da universidade ser pública, ela tinha sido reservada pelos protestantes pró-Tibet para aquele dia, aquele horário. Da mesma forma que uma área da minha residência foi ocupada para que uma horta fosse plantada (possivelmente, os meus vizinhos idosos não concordam com o uso que dou para a terra), colegas chineses invadiram uma área reservada (a partir do instante em que foi reservada, o ato caracteriza uma invasão) para que o ato fosse abafado. Mais do que isto, notícias dão conta que uma das garotas chinesas que participou do protesto apoiando o lado tibetano sofreu ameaças, e sua família teve a casa atacada por vândalos em função de sua participação nos protestos. De acordo com notícias, em diversos fóruns de chineses, a garota é tratada como traidora, vigarista e alguém apenas interessada em obter um green-card.

A reação dos chineses já foi comparada, em algum fórum de discussão, a crianças que nunca comeram doce e que, subitamente, encontram 100 dólares em seu bolso no meio de uma fábrica de chocolates. Ter a chance de expressar as suas opiniões contra ou a favor do Tibet sem sofrer pressões em contrário parece afetar o julgamento a respeito de reações apropriadas quando as opiniões são confrontadas. Tivessem organizado uma manifestação para o dia seguinte, ou mesmo para a hora imediatamente após o final do protesto pró-Tibet, e a reação não teria sido tão contestada como está sendo.

Por fim, devo começar a considerar o cultivo de alguma coisa no quintal da minha casa.

Abraços!

3 comentários:

Anônimo disse...

cultivar algo no quintal? Eu vou e' estacionar o carro na MINHA area, em cima da horta dele!!!!!!!!!!
beijos,
Chris

Anônimo disse...

Pega umas sementes de radicci (aou alguma outra "praga" comestível) e joga na tua parte. Em breve vai ter radicci na tua parte, na do china, na casa dele, na tua...
Um abraço para vocês.

Nando

Anônimo disse...

Valeu, Nando!!! :)
Vou fazer isto este final de semana mesmo.... hehehehehehe O China vai ver so'!

Abracao!