maio 01, 2008

Grandes Momentos do Investment Grade

Fazer as coisas da forma correta costumam dar bons resultados. Também deixar de fazer coisas erradas ajuda a não fazer coisas erradas. Nesta semana, todo mundo sabe, o Brasil passou as ser considerado "investment grade" pela agência Standard & Poors. De acordo com a diretora da agência, "a política econômica pragmática do Brasil indica que o País tem uma perspectiva de crescimento mais forte no futuro e que deve ser sustentável". Além disso, de acordo com a matéria do Estadão:

Lisa afirmou que acredita que a política econômica desenvolvida pela administração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve continuar no longo prazo. Tal política é sustentada pelo regime de metas de inflação, austeridade fiscal e câmbio flutuante. "Essa ação do governo gera as bases para mitigar o tamanho da dívida pública em relação ao PIB no Brasil, que é maior do que em outros países que já são investment grade", disse.


Vamos, então, aos depoimentos de atores fundamentais para a obtenção de tamanho reconhecimento dos mercados:

— "Vou citar cinco diretrizes programáticas, sobre as quais há um razoável grau de consenso na frente e das quais emergirão decisões técnicas, de governo, quando governarmos: 1) redução drástica das importações supérfluas e predatórias, com o impulsionamento da produção de máquinas e equipamentos, para privilegiar a criação de um mercado interno de massas; 2) renegociação e reescalonamento da dívida pública, interna e externa, combinando essas ações com a denúncia do acordo atual com o FMI; 3) reforço do sistema financeiro público e adoção de um circuito de crédito, por fora do sistema bancário tradicional, para estimular novas empresas e proporcionar a qualificação tecnológica das pequenas e médias empresas já existentes; 4) reforma agrária e política agrícola, que combinem a produção de alimentos para o mercado interno com uma agricultura mais competitiva (e protegida, como fazem os EUA e a França) para disputar o mercado externo; 5) reforma fiscal e tributária para adotar forte progressividade e também acabar com a guerra fiscal e simplificar o sistema." (Tarso Genro - Folha de São Paulo - 14/09/1999)

— "Nunca houve uma palavra minha contra o Copom. O Copom é um órgão eminentemente técnico. A única coisa que eu falo é que a decisão não é técnica, é política. Por quê? Porque, por princípio, responsabilidade não se transfere. Você pode delegar autoridade a um ministro e ao Copom, mas não lhes transfere a responsabilidade pelos resultados." (José de Alencar - Folha Online - 15/12/2005)

— "Esse instrumento é danoso para a nossa economia. É responsável pelo fato de estarmos gritando aqui ou nas casas onde não há pão. E precisamos crescer e reduzir esses juros a um patamar de padrão internacional. Estamos pagando dez vezes a taxa média básica real do mundo. Dez vezes. Isso é um crime." (Ainda José de Alencar, sobre os juros no Brasil - Folha Online - 15/12/2005)

— "Essas taxas de juros elevadas, despropositadas, têm contribuído para esse câmbio, que é um câmbio burro, que prejudica a economia brasileira, prejudica a capacidade competitiva da indústria nacional, porque ele está errado". (Mais José de Alencar, Folha Online - 28/11/2005)

— "As políticas monetária e cambial são restritivas, e a TJLP não estimula o investimento". (Guido Mantega, então presidente do BNDES - 26/11/2005)

— "Esses bancos de investimentos têm se equivocado com frequência e orientado mal seus clientes. Antes da crise argentina, o risco daquele país, na avaliação deles, era menor que o do Brasil, o que se provou errado." (Guido Mantega, então professor da FGV/SP e assessor do PT - Folha Online - 30/04/2002)

— "O Morgan Stanley era o banco ao qual pertencia o Francisco Gros [ex-presidente da Petrobras e ex-presidente do BNDES, na gestão tucana], por exemplo. Esses bancos costumam mais é especular e ganhar dinheiro com suas avaliações, como ocorreu recentemente com as taxas de juros." (Aloízio Mercadante - Folha Online - 30/04/2002)

— "O trabalho do ex-ministro Palocci e do Meirelles foi fundamental para o país. Nós não estaríamos podendo debater crescimento econômico hoje se não tivesse feito ajuste fiscal severo, reforma previdenciária e tributária. Só que, daqui para frente, nós não temos que continuar aumentado superávit primário, temos que fazer ajuste fiscal para aumentar o investimento público." (Aloízio Mercadante - Folha Online - 10/11/2006)

— "Se nós queremos migrar para uma economia saudável, precisamos necessariamente focar o nosso futuro na redução da relação dívida/PIB, mesmo que isso signifique meta de inflação um pouco menos apertada." (Ricardo Berzoini - Folha Online - 18/02/2005)

E teriam muitas outras declarações deste nível. Às vezes, deixar de fazer a coisa errada é a melhor solução para os problemas.

Abraços!

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