Eu já tinha comentado, no ano passado, como eu achava estranho o fato de colegas terem comprado casas, ainda que, aparentemente, as suas condições de entrar em uma compra destas era relativamente restritas. Depois, lendo esporadicamente sobre o problema, fui alertado para a existência de políticas de incentivo do governo para estimular a compra da casa própria, reduzindo o papel do mercado de aluguéis para habitação. Como estímulo, o governo estaria induzindo a redução do downpayment (a entrada) na hora da compra. Entretanto, o foco das críticas está toda voltado para os contratos teaser, na sua maioria formado por subprime, onde o banco oferece um financiamento com juros muito baixos no início, subindo a taxa depois de alguns anos.
Um economista do Fed de Chicago, Gadi Balervy, esteve no último semestre por aqui apresentando um paper onde, na introdução (a leitura do artigo é difícil, aviso de amigo), ele destaca:
"My model reveals several new insights. First, it shows that contracts offering low rates for early repayment emerge endogenously when creditors expect some of their borrowers to speculate. These credit arrangements are thus a response to, rather than a cause of, speculation. Precluding lenders from offering these financial products will not only fail to curb speculation, but may end up exposing creditors to greater risk. (...) [T]he model shows that a reduction in the real Federal Funds rate need not generate bubbles if it is temporary. This contradicts the argument cited above that the historically low rates set by the Fed in 2003 was the main culprit for the bubble in housing markets. Regardless of the true culprit, the model suggests that certain policies can be used to eliminate one if it emerges. In particular, raising rates or imposing down payment (or margin) requirements can both be used to prevent bubbles, although the latter policy is only effective if it is applied systematically rather than temporarily as is sometimes advocated. While these policies may curtail speculation, the model suggests they might also discourage beneficial trades, so that curbing speculation may be socially costly."
Ou seja, o autor não apenas livra a cara dos empréstimos subprime, como também a política monetária do Fed, que teria estimulado a compra de casas através de uma redução de juros que durou além do necessário. Ok, uma primeira reação ao paper é que isto não passa de uma construção teórica, sem suporte nos dados, e que, por consequência, certas generalizações e determinações de política não poderiam ser feitas. Entretanto, hoje eu li um comentário no Wall Street Journal que colabora através de evidências empíricas com o modelo discutido no artigo de Balervy: de acordo com Stan Liebowitz, depois de compilar dados individuais de contratos de empréstimo em nível nacional, apesar de apenas 12% dos contratos apresentarem dívidas maiores que o valor das casas, estes contratos correspondem a 47% do total de casas retomadas para cobrir o não-pagamento da hipoteca (foreclosures). Sobre os contratos teaser, apenas 8% dos foreclosures estavam relacionados a aumentos maiores que 4% nas taxas de juros cobradas ao longo do tempo.
É um bom "food for thought" quando os dados começam a bater com uma análise tão abstrata quanto a do artigo de Balervy.
Abraços!
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