Como quase todo mundo, costumo receber muita bobagem pelo e-mail, em especial as detestáveis correntes. Entretanto, esta mensagem que reproduzo parcialmente abaixo reflete bem o lamentável estado do ensino da matemática nas escolas do Brasil:
"Semana passada comprei um produto que custou R$17,75. Dei à balconista R$20,00 e peguei na minha carteira 75 centavos, para evitar receber ainda mais moedas. A moça do caixa pegou o dinheiro e ficou olhando para a máquina registradora, aparentemente sem saber o que fazer. Tentei explicar que ela tinha que me dar R$3,00 de troco, mas ela não se convenceu e chamou o Gerente para ajudá-la.
Por que estou contando isso? Porque me dei conta da evolução do ensino de matemática, que gradativamente foi se degenerando pouco-a-pouco, assim:
1. Ensino de matemática em 1950: Um cortador de lenha vende um carro de lenha por R$100,00. O custo de produção desse carro de lenha é igual a 4/5 do preço de venda. Qual é o lucro?
2. Ensino de matemática em 1970: Um cortador de lenha vende um carro de lenha por R$100,00. O custo de produção desse carro de lenha é igual a 80% do preço de venda. Qual é o lucro?
3. Ensino de matemática em 1980: Um cortador de lenha vende um carro de lenha por R$100,00. O custo de produção desse carro de lenha é R$80,00. Qual é o lucro?
4. Ensino de matemática em 1990: Um cortador de lenha vende um carro de lenha por R$100,00. O custo de produção desse carro de lenha é R$ 80,00. Escolha a resposta certa, que indica o lucro:
( ) R$20,00 ( ) R$40,00 ( ) R$60,00 ( ) R$80,00 ( ) R$100,00
5. Ensino de matemática em 2000: Um cortador de lenha vende um carro de lenha por R$100,00. O custo de produção desse carro de lenha é R$80,00. O lucro é de R$20,00. Está certo?
( ) Sim ( ) Não
6. Ensino de matemática em 2008: Um cortador de lenha vende um carro de lenha por R$100,00. O custo de produção desse carro de lenha é R$80,00. Se você conseguiu ler, coloque um X no R$20,00.
( ) R$20,00 ( ) R$40,00 ( ) R$60,00 ( ) R$80,00 ( ) R$100,00"
Enquanto isto, a Chris, nesta semana, estava me descrevendo um trabalho que um dos chefes dela no serviço teve que ensinar uma criança a fazer. Este chefe dela recebe famílias de refugiados políticos de países "desenvolvidos", como o Cambodja, Vietnam, Coréia do Norte e afins, e auxilia na adaptação destas famílias ao novo país. Entre as tarefas que o chefe dela executa está o acompanhamento das crianças na escola, já que os pais, por não saberem falar inglês, não têm condições de aparecer nas reuniões com professores.
Mas, voltando ao trabalho da criança, ela precisava apresentar um cálculo que explicasse, aproximadamente, o número de barbeiros existentes na cidade de Durham. Para mostrar como fazer o cálculo, o chefe da Chris fez a criança pegar a lista telefônica da cidade e contar quantos barbeiros existiam. Considerando a população de Durham, e o número de cortes de cabelo que uma pessoa média faz por ano, e o número de cortes de cabelo que um barbeiro faz por mês, seria possível fazer uma aproximação razoável deste número.
A pobre criança vietnamita não entendia como desenvolver este raciocínio para chegar a um número como este: ela estava acostumada ao ensino de regras que deveriam ser repetidas à exaustão até que fosse entendida.
Alguém teria coragem de colocar a balconista do e-mail para fazer esta atividade que a criança vietnamita estava enfrentando no ensino primário? Não duvido, também, que a balconista que não sabe calcular o troco esteja se esforçando para obter um diploma de terceiro grau, em alguma universidade que tenha exigências extremas, como cálculo de regra de três, percentagens, e outras "complexidades" matemáticas...
Abraço!