Fim de carreira é isto aí!!! Gera até aquele que deve ser o post mais cheio de aspas que já escrevi.
Delfim Netto, na Folha de hoje (22/04), escreve uma coluna chamada "Mistificação". Nela, o ex-ministro desencava do fundo do baú a velha tese da inflação como "lubrificante" da atividade econômica. Vejam a beleza estruturalista do trecho, já no primeiro parágrafo:
"A taxa de 'inflação mínima' de um país é uma espécie de radiador que dissipa o calor (os aumentos de custo) produzido pelos atritos operacionais do sistema econômico: funcionamento inadequado das instituições (segurança, Justiça), falta de infraestrutura (estradas, comunicações), nível de competitividade (controle do poder econômico e regulação da concorrência) etc.
São dificuldades 'estruturais', que precisam ser removidas para que a 'taxa mínima de inflação' se aproxime das vigentes nos seus competidores externos."
O parágrafo seguinte começa com a sua "estimativa" da "taxa mínima de inflação":
"Nas condições atuais de temperatura e pressão vigentes no Brasil, essa 'taxa mínima de inflação' parece situar-se entre 4% e 5% ao ano, compatível com a atual meta de inflação, de 4,5%."
De onde veio o número de Delfim? Ninguém sabe, ninguém viu. Mas que se dê um desconto, por agora, pois colunas de jornal possuem regras muito estritas quanto ao número de caracteres.
O observador mais atento deve prestar atenção na sutileza da frase: dizer que "nas condições atuais de temperatura e pressão vigentes no Brasil" a "taxa mínima de inflação" (socorro!) é bem ajustada em 4,5% implica dizer que, se as "condições" mudarem, a taxa também muda! Quer dizer, se a economia sair da recessão atual, é possível, então, que esta "taxa mínima de inflação" seja maior que os 4,5%. Basta, por exemplo, assumir que o aumento de nível de utilização da capacidade instalada, natural em processos de recuperação do nível de atividade, gere um aumento do custo marginal de produção que sobrecarregue o "radiador", para usar a linguagem do primeiro parágrafo.
Mas aí vem o pior. Para fazer uma crítica à política monetária atual, Delfim larga a seguinte pérola:
"Envolvido no cipoal incestuoso do 'produto potencial' estimado pelo passado (que ele mesmo [Banco Central] construiu com sua política monetária), só obtém sucesso passageiro com a oportunística supervalorização do real, explorando o diferencial de juros interno e externo."
Na visão do ex-ministro, então, por um lado, o produto potencial da economia não deveria ser estimado "pelo passado". Mas, por outro lado, a "taxa mínima de inflação" veio de alguma observação empírica, por conceito também gerada... no passado!!! Ou isto, ou para ambos os conceitos, na visão "estruturalista-delfiniana", Deus desce à Terra, posta-se à frente do colunista e, por Sua Vontade, revela os números mágicos de inflação e produto que guiam a economia no longo prazo.
"Mistificação" usar os números do passado? E isto, onde fica?
Abraços!
Um comentário:
Delfim é um fanfarrão...
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