Aí o estudante entra no quarto para dormir, mais cedo do que o esperado. A nega véia olha, assustada:
— Já terminou a lista de exercícios?!?!?!
— Nada. Mas também já trabalhei mais do que as doze horas semanais...
— Doze horas semanais?!?! Do que tu tá falando, animal????
— Das doze horas que eles querem que eu trabalhe no escritório...
— Mas tu sempre trabalhou mais em casa que no escritório...
— É que eu preciso de um livro que está lá, mas eu não posso voltar, senão contam como hora de trabalho, e aí esculhamba com a programação.
— Mas quem foi o gênio que inventou este negócio de 12 horas de jornada de trabalho?
— Ah, um professor famoso aí de economia... está ocupando cargo importante no governo, eles fazem pesquisa, sabe?
— Mas isto é uma idiotice! Tu vai ficar sem terminar o que tu precisa por causa deste animal?
— Eu sei que é idiotice, e tem mais gente que acha isto...
— Ah, mas ao menos eu vou poder dormir um pouco, tenho dormido pouco por causa do trabalho.
— É verdade! Então vem, nego, deita aqui, descansa.
— Humpf...
— O que foi, nego?
— O mesmo professor disse que, para o Brasil crescer, os impostos tinham que representar, mais ou menos, 60 a 70% de tudo o que eu ganho. Se eu já estou deixando quase 40% do que ganho para o governo, como é que eu posso abrir mão de outros 20%?!?!?!
— Bom, nós poderíamos trabalhar mais...
— Mas eu já estou fazendo as 12 horas!!!!!
— Ih, é verdade... Mas como ele pode achar que, pagando 70% de imposto, o país vai crescer mais???
— Eles fazem pesquisa, nega véia! Eu me mato aqui estudando, mas eles fazem pesquisa!!! Eles sabem das coisas!
— Tá, te acalma. Pega um livro para ler. Tem o daquele velhinho que você ainda não terminou...
— Verdade.
O estudante começa a ler o livro. Abre no capítulo 17, onde tinha terminado a sua leitura anteriormente. Quinze minutos depois, ele levanta. A nega véia pergunta, de novo assustada:
— Onde tu vai agora, nego?
— Buscar o livro no escritório.
— Mas e a história das doze horas???
— Não funciona. Olha só o que o velhinho diz:
"Economic populism imagines a more straightforward world, in which a conceptual framework seems a distraction from evident and pressing needs. Its principles are simple. If there is unemployment, than the government should hire the unemployed. If money is tight and the interest rates as a consequence are high, the government should put a cap on rates or print more money. (...) Why are such responses any less reasonable than supposing that if you want a car to start, you turn the ignition key? The answer is that, in economies where millions of people work and trade every day, individual markets are so interwined that if you cap an imbalance, you inadvertently trigger a series of other imbalances. (...) The populist view is equivalent to single-entry bookkeeping. It scores only credits (...) Economists, I trust, practice double-entry bookkeeping."
— Mas o que isto tem a ver???
— A contrapartida de ficar sem resolver a lista de exercício: já pensou na minha nota como vai ficar?!?!?!?!?!?!
— Vai trabalhar, boa noite nego.
P.S.: A história é totalmente ficcional: a minha nega véia acertou de primeira quem era o gênio que falou esta bobagem.
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