janeiro 19, 2009

Divas se Bicando 2 - A Missão

Depois do sucesso de bilheteria da primeira versão, as divas estão de volta!!! Desta vez, Krugman começa com um direto sobre a qualidade da argumentação dos economistas que são contra o pacote de estímulo fiscal proposto pelo governo Obama:
What’s been disturbing, however, is the parade of first-rate economists making totally non-serious arguments against fiscal expansion. You’ve got John Taylor arguing for permanent tax cuts as a response to temporary shocks, apparently oblivious to the logical problems. You’ve got John Cochrane going all Andrew-Mellon-liquidationist on us. You’ve got Eugene Fama reinventing the long-discredited Treasury View. You’ve got Gary Becker apparently unaware that monetary policy has hit the zero lower bound. And you’ve got Greg Mankiw — well, I don’t know what Greg actually believes, he just seems to be approvingly linking to anyone opposed to stimulus, regardless of the quality of their argument.
blog it
Krugman vai ainda mais longe, dizendo que "it’s hard to avoid the conclusion that all of them have decided on political grounds that they don’t want a spending-based fiscal stimulus — and that these political considerations have led them to drop their usual quality-control standards when it comes to economic analysis". O novo ataque de Krugman foi prontamente respondido por Mankiw em seu blog:
In recent weeks, I have linked to Christy Romer making the case for the Obama fiscal stimulus as well as many economists on the opposite side the debate. It is true that I have linked more to those opposed. That is partly a reflection of my opinion on the issue. It is also partly to provide a counterpoint to the view disingenously promoted by some members of the incoming administration that almost all major economists are lined up behind their stimulus plans. As Paul's list of prominent stimulus skeptics documents well, that is simply not the case.
blog it
A resposta de Mankiw, mais uma vez, me pareceu bem ponderada em comparação aos exageros evidentes da argumentação de Krugman. De fato, uma coisa é puxar a sua opinião apoiando um aumento dos gastos públicos para o extremo de dizer que o governo americano estará sendo tímido no seu plano de gastos, como faz Krugman. Outra coisa, completamente diferente (e este é o ponto principal de Mankiw), é mostrar que nem todo mundo tem a mesma opinião sobre os efeitos de um estímulo fiscal na economia, nem mesmo aqueles que irão comandar as ações do futuro governo, como ele mostra em seu post sobre as correspondências com Christina Romer.

Um argumento, de toda forma, que eu ainda não vi aparecer no debate, e que tornaria uma entrevista com o autor da idéia muito interessante, é a noção de que a política monetária ótima é única, no sentido de ter o mesmo comportamento quando a economia se encontra próxima ou sobre o limite inferior da taxa de juros nominal (exatamente o quadro que os EUA se encontram atualmente). Paul Krugman, em última instância, resume o seu apoio a uma política de gastos elevados na idéia de falta de efetividade da política monetária quando os juros se encontram próximos de zero. Michael Woodford argumenta (capítulos 6, 7 e 8 do seu livro-texto) que a política monetária ótima independe da restrição de taxas nominais de juros próximas de zero. Mais do que isto, em um paper onde também discute o problema de política fiscal ótima quando os juros se encontram próximos do limite nominal mínimo, Woodford e Eggertsson (2003) argumentam que:

"Our results here suggest that Krugman's (1998) emphasis on the importance of creating expectations of inflation following the economy's exit from the 'trap' is somewhat exaggerated. Mitigating the distortions created by the zero lower bound on interest rates ... does depend critically upon the creation of expectations of a more expansionary policy in the future as a consequence of the current disturbance. However, expectations of a supply-side boom (while monetary policy is used to maintain stable prices) can also reduce distortions resulting from the trap to a considerable extent. Expectations of high future real incomes will reduce the incentives for either price cuts or low spending during the period of the trap. And once it ceases to be expected that prices will decline sharply while the zero bound binds, real interest rates will no longer be perceived to be so high relative to the current natural rate of interest; it is this mechanism that makes changes in expectations regarding future policy such a potent tool in our model."

Ou seja, mais um argumento claro a favor do uso de taxas (um instrumento para controlar a oferta), ao invés do aumento de gastos (um choque de demanda) para "inflacionar" a economia quando o limite mínimo dos juros está próximo.

A imprensa, também, deveria cumprir o seu dever e procurar outras pessoas que também teriam boas opiniões para dar sobre o tema. Uma pena que o foco fica restrito nas divas blogueiras.

Um abraço!

2 comentários:

marc3l0m disse...

My Friend Angelo,

Vou tecer um comentário sob o meu ponto de vista mais financista do que econômico e, por ossos do ofício, acabei tendo de ler intensamente grande parte dos blogs que você menciona aqui (felizmente ou infelizmente dependendo do autor).

De cara, acho conveniente expor algumas das minhas opiniões mais diretas no que diz respeito ao assunto "fiscal stimulus": vejo que, de certo modo, Krugman acerta em apontar o excessivo viés ideológico que o debate ganhou (inclusive devido ao próprio Krugman). Mais, no caso dos conservadores, a batalha é inglória! Dada a terra arrasada que as políticas econômicas do Bush deixaram como legado, por mais inteligentes que sejam os seus patrocinadores (Mankiw, Taylor, Fama, etc...) é batalha perdida desde o começo.

No caso dos financistas então, aí é de doer! Quase toda a base da teoria das finanças ruiu nesse episódio. Essa base estava montada em cima de algumas premissas que, na prática, provaram estar muito longe da realidade (pior, principalmente nos momentos em que deveria funcionar como são os momentos de estresse). São elas: continuidade dos mercados (a liquidez sumiu provando que os mercados não são contínuos), a normalidade dos retornos (em espaços muito curtos de tempo - as vezes durante a mesma semana -nos últimos 18 meses assistimos alguns eventos que, estatisticamente, deveriam acontecer somente uma vez a cada 10^18 anos - eu fiz os cálculos trust me). Isso só para lembrar alguns. Se Nouriel Roubini é o profeta do apocalipse desta crise, Nicholas Taleb (autor de The Black Swan) o é para as finanças.

Mas estou desviando do assunto. Confesso que, apesar dos esperneios do Krugman, fico do lado dele nesse argumento. Como ele próprio ressalta, não acredito que o plano fiscal (qualquer um deles, do Obama ou do Bush) não serão a solução para a crise, porém, qualquer solução que se proponha do lado da oferta (tipo cortes de impostos que inclusive figuram no plano do Obama), não devem surtir efeito no curto prazo o que, afinal de contas, é oq ue se deseja: resultados quase que imediatos sob o perigo de que a economia americana entre em deflação e aí sim, the shit will hit the fan!

A grande realidade é que os mercados falharam big time nesta crise. Prova disso é que o sistema financeiro americano TODO quebrou. De fato quebrou. Não fosse a ajuda do Tesouro Americano, do FDIC e do Fed, talvez restariam hoje nos EUA uns três bancos meio que agonizando, porém, ainda vivos. As empresas da economia real vão começar a sentir o estrago só agora. Ou seja, os riscos de não fazer nada agora poderiam ser catastróficos. Acho que isso é consensual.

O problema de fato é que os economistas na blogosfera (horrível esse termo em português) são altamente influenciados pelas suas audiences e, por isso, escrevem para o seu público cativo. Assim, minha teoria é que acabam ficando cada vez mais extremados à medida que o assunto fica mais polêmico. Todos eles acabam sofrendo disso. Há mais: os blogs não são mais hobbies desses caras. Passaram sim a ser veículos importantes de comunicação direta (inclusive com o meio acadêmico). Enquanto que na academia, o caminho entre idea and publishing é longo e árduo, na blogosfera um post recebe um peer review imediato e, ademais, não acho que esses caras no ponto da vida em que se encontram ainda publicam com a intensidade que faziam antigamente (acho inclusive que nem desejam isso).

A verdade é que os blogs do Krugman e do Mankiw são (independente dos méritos) THE ECONOMIC BLOGS na internet e, como estão em espectros econômicos distintos, vão polemizar sempre. Acho que isso vai prejudicar o trabalho acadêmico deles, porém, que é bom acompanhar a discussão isso é.

Finalizando com uma opinião não acadêmica do Mankiw. Não sei qual a área de especialidade dele, só tenho alguns livros textos dele (muito bons por sinal) e, mais importante, acompanho o blog dele de longa data. Dado esse background information do meu conhecimento do cara considero ele um grande picareta (pelo menos no que ele produz para o general public). Esteve errado em todos os momentos da crise (antes e durante, já que ela ainda não acabou). Pior: sempre adotou uma postura explicitamente partisan. Afinal de contas fez parte do governo Bush. Quanto ao Krugman ele pelo menos bate em ambos os lados: foi muito duro com o Bush mas, porém, tem sido muito crítico ao Obama também (embora por ser um defensor fiel do estímulo fiscal. Ele acha que o plano do Obama é pouco ambicioso).

Mas com certeza, esse dois personagens não são os únicos envolvidos no debate sobre esse assunto. Podemos ampliar a discussão para os outros depois, mas gostaria de ouví-lo antes de continuar (também estou um pouco cansado de teclar e a Rita me chama para assistir ao Big Brother Brasil 9 - juro!!!!).

Abraços,

Marcelo

Angelo M Fasolo disse...

My Friend Marcelo,

O meu argumento contra o aumento de gastos (linha de estímulo proposta pelo Krugman) é mais contábil do que de efetividade: descontando os gastos militares, o governo americano vem sustentando desde 2001 um gasto médio cerca de 1% do PIB acima do valor médio de 1995-2001. Argumenta-se que, no mesmo período, os impostos caíram 1.5% do PIB, fazendo o déficit explodir. Entretanto, como sabemos do setor público, é muito mais fácil aumentar/cortar impostos do que cortar gastos (e, de fato, a volatilidade da série de impostos é muito maior que a dos gastos, que é quase uma linha reta no tempo). Dado que as medidas a serem tomadas são de emergência, e que alguma medida fiscal tenha que ser tomada, acho que é mais fácil operar o orçamento através dos impostos. Felizmente, o que o paper do Woodford mostra é que, tecnicamente, seria a melhor solução.

Aí o Krugman argumenta que, em época de crise, as pessoas vão guardar o dinheiro dos impostos no bolso, ao invés de gastar e estimular e economia. Eu concordo, e respondo: e daí? Da forma como o debate está andando, ninguém tem apontado, afinal de contas, quem vai pagar a conta: se não pode mexer nos impostos (porque o povo não vai gastar), se não pode aumentar gastos (porque ineficientes), se os juros não funcionam (porque próximo do limite zero), se os bancos não podem assumir este prejuízo, sob risco de aumentar o pânico no mercado... então a contabilidade não fecha. Minha idéia: infelizmente, tem gente que vai ter que perder casas; tem gente que vai ter que perder emprego; e assim por diante, até que se restabeleça um mínimo de confiança nos ativos que os bancos possuam em conta. E prefiro que o alívio para este pessoal seja dado de forma direta (impostos) do que de forma indireta (uma rodovia nova na frente da casa menor onde eles vão morar).

Por fim, a respeito da produção acadêmica das divas, de fato, já não é mais a mesma da época em que estavam no auge: os papers do Mankiw (em macro, especialmente na análise de política monetária e fiscal) no site dele são mais os eventuais discursos e palestras proferidos por ele; o Krugman já nem se preocupa em colocar a produção recente no site da universidade. Entretanto, devemos notar que, neste período de crise, a grande maioria dos professores de macro das universidades daqui, já produziu alguma nota, algum discurso, alguma análise, e enquanto o Mankiw tem listado tudo o que aparece, o Krugman só se preocupa em chamar as análises que ele não concorda como feitas por "cranks, charlatans and Republicans" (vide NYT de hoje).

Um grande abraço para ti e para a Rita (e aproveitem a temporada BBB... risos)!

Abraço!