Uma das propostas novas que andam circulando sobre planos de ação para corrigir os problemas de crédito resultantes da crise financeira refere-se à criação de "bad banks": instituições que concentrariam todo o crédito ruim contido nos 4 maiores bancos americanos, em troca de um auxílio para que os bancos retomassem a confiança necessária para reativar o mercado de crédito.
As críticas sobre a criação dos "bad banks" são basicamente três:
1) os "bad banks" seriam criados com grande uso de dinheiro público limpando a sujeira dos créditos podres contidos nos balanços das grandes instituições. O dinheiro público viria de duas fontes: mais dívida ou maior dinheiro impresso. No primeiro caso, a intervenção significa o aumento da já gigantesca dívida pública do governo americano. No segundo caso, imprimir dinheiro resulta em mais inflação.
2) a criação dos "bad banks" seria avalista do problema de "moral hazard" que as grandes instituições enfrentam: se toda vez que o banco fizer concessões burras de crédito, o governo aparecerá para corrigir o problema, o banco não tem motivo nenhum para fazer análises de risco de crédito no futuro.
3) que preço pagar por ativos cujo retorno é altamente questionável? O valor de face ou o retorno esperado? Se for o valor de face, é injeção de dinheiro público na veia, já que o governo ficaria no prejuízo. Se for o retorno esperado, então a ajuda é nula, já que nenhum dinheiro entraria no banco. Esta é a crítica original feita por Krugman ao plano de Paulson.
No NYT de hoje, uma análise interessante de Max Holmes discute uma alternativa à criação tradicional dos "bad banks", baseada em experiências do final da década de 80 nos EUA. Para entender a proposta, é preciso visualizar o funcionamento do balanço de um banco problemático na situação atual. A figura abaixo mostra a divisão entre ativo e passivo do banco, com o total de ativos ruins superando o valor total do patrimônio, mas menor que o total do passivo sem contar o patrimônio líquido. Pela figura, assumindo que o total de ativos podres resulte em um retorno igual a zero, fica claro que o banco é insolvente, já que depois de liquidadas todas as operações, o patrimônio líquido final é negativo.
As propostas iniciais de intervenção nos bancos, na linha desenhada até agora, consistiam em usar dinheiro público para comprar dos bancos a fatia vermelha do balanço, de forma a limpar o balanço das instituições. Basicamente, a fatia vermelha seria "transformada" em uma fatia branca com o uso do dinheiro público, e o governo administraria um conjunto de ativos cujo retorno assume-se zero. Esta é a proposta que citei acima cujo resultado final, para a economia, seria mais inflação ou maior endividamento público.
A proposta comentada por Max Holmes consiste em transferir a parte vermelha para o "bad bank", tendo como contrapartida uma fatia do passivo dos bancos. Ou seja, ao invés de "transformar" a parte vermelha, o quadrado todo seria reduzido, na medida exata da área vermelha. O total do passivo transferido seria formado pelos títulos emitidos pelos bancos para captar recursos, com vencimento equivalente ao dos ativos podres, para que o gerenciamento do "bad bank" seja possível.
Além de evitar o uso do dinheiro público para salvar instituições insolventes, a proposta penaliza também o banco através da retirada de parte do passivo. A punição viria através da transferência de dívidas do banco falido de perfil favorável para o "bad bank", caso os vencimentos dos ativos podres fossem compatíveis.
Alguém consegue ver falhas neste tipo de intervenção? Área de comentários aberta.
Abraços!