- Existem dois papéis fundamentais, e, em alguns países, excludentes, no jogo de política monetária desenhado pelo regime de metas de inflação: o primeiro papel é o de formulador da meta – no Brasil, o CMN é quem escolhe a meta de inflação com até dois anos de antecedência; o segundo papel é o de executor, onde o Banco Central ajusta a taxa de juros de forma a tentar cumprir o desígnio do formulador.
- O Banco Central é o executor da política, e possui toda a autonomia de instrumentos para gerar o resultado desejado, minimizando a diferença entre meta e inflação no horizonte de tempo planejado.
Meu amigo Shikida escreveu um post em seu blog tratando do que seria um comportamento cíclico de governos reeleitos: cumpre-se um primeiro mandato com a política mais rígida possível, para depois um afrouxamento capaz de garantir o necessário para ser mostrado nas próximas eleições. Segundo a sua opinião, da qual compartilho, está em marcha uma política econômica para os próximos anos cujo custo será devidamente medido através da variação da carga tributária e da inflação (variação positiva, para a média da população, em ambos os casos).
Entretanto, um ponto desta discussão sobre a meta para 2009, origem de todos os debates atuais sobre política monetária no Brasil, ainda não está claro no desenho institucional do jogo: por que o presidente do Banco Central está discutindo com o ministro da Fazenda sobre o número da meta? Porque ele faz parte do CMN, o órgão do governo que decide a meta de inflação. Mas por que ele faz parte do CMN? E aí falta uma resposta convincente. Os custos do bate-boca entre Fazenda e Banco Central já estão se tornando evidentes (a última estimativa é de R$ 2.2 bilhões, só na conta de juros), e nem por isto parece que o debate esfria.
O ideal, neste caso, seria adotar literalmente um regime de acordo com o título do post: deixando-se claro que o BC não tem participação alguma sobre a escolha da meta de inflação, o governo assumiria os custos de vir a público e dizer, explicitamente, que ele deseja, sim, mais inflação no longo prazo; que, sim, os gastos públicos contratados hoje serão pagos com o papel pintado em 2009; que, sim, o governo tolera "um pouco mais" da distorção inflacionária em troca (não garantida) de um crescimento pouco maior neste ano.
Entretanto, o que é feito no país? Cria-se uma incerteza desnecessária, com o Banco Central pagando o mico do que deveria ser uma discussão de governo. E paga o mico duas vezes: uma, por estar debatendo com argumentos técnicos uma decisão que foi tomada politicamente (os ouvidos dos políticos são notavelmente surdos aos argumentos técnicos); e duas, por ser obrigado a cumprir uma meta em um ambiente de negócios mais difícil, curiosamente formado a partir da discussão atual (os R$ 2.2 bilhões começaram a se formar no início do debate).
Fico feliz por ter a oportunidade de escrever este post, já que ele organiza um pouco mais as idéias que já tinha lançado em outros dois (aqui e aqui) sobre os custos de política monetária mal desenhada.
Abraços!
Um comentário:
Ainda bem que vc. escreveu fica quietO (com um "O" bem grande no final, para deixar claro a devida ordem das coisas e de quem viria a frase... rsrsrs)
beijos!
te amo!
Chris
(agora,fica quietO e vai fazer a janta!!! hahaha hahaha hahaha...)
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