outubro 10, 2008

Milton Nascimento em Durham

Ontem, fomos para um show que eu jamais esperava ver por aqui: Milton Nascimento e o Jobim Trio (formado por dois filhos do Tom, mais Paulo Braga). Fiquei sabendo do show meio que por acaso, um colega argentino me avisou na segunda-feira. Confesso que estava receoso de ir, e os meus receios tinham razão de ser, muito menos pela música, de altíssima qualidade, do que pelo público.

O show foi realizado em um dos teatros da universidade. A acústica não era a ideal (o som da bateria pareceu um pouco alto demais, e era difícil escutar o piano), mas foi um prazer, de fato, ouvir Milton Nascimento interpretando alguns clássicos da Bossa Nova. O show abriu com o Trio (mais o baixista Rodrigo Villa) executando o "Samba de Uma Nota Só" e "Águas de Março", esta em um ritmo de quase jazz. Milton Nascimento entrou no palco no meio da música seguinte, "Só Tinha de Ser Com Você". O show, ao invés de ficar restrito à Bossa Nova, terminou com um repertório mais próprio de Milton, com a última música sendo "Maria, Maria". Felizmente, ele não cantou "Coração de Estudante" – uma das músicas mais chatas-por-repetição da história brasileira.

Agora, o lado horroroso: o público. Como em todo o evento que eu fui por aqui com brasileiros diretamente envolvidos, o público era formado por dois tipos de pessoas: 1) americanos querendo ver um pouco da "cultura exótica"; 2) brasileiros fazendo um esforço tremendo para mostrar para todos que, afinal de contas, eram brasileiros. A diferença entre os dois tipos de público era marcante já na entrada do show: enquanto os americanos já se encontravam sentados em seus lugares às 19:45hs (estava marcado para começar às 20hs), os brasileiros andavam de um lugar para outro, só começando a sentar por volta das 20hs. Quando o show começou, 20:15hs, ainda tinha muita gente andando pelo teatro.

"Ah, Angelo, como você está chato e rabugento." Ah, é? Achou pouco? Ok. E que tal a brasileira, professora da universidade, que, a despeito dos pedidos dos organizadores no começo, sacou a máquina fotográfica e desandou a disparar fotos com flash do show? Qual é a desculpa? Ela não entendeu a mensagem porque estava em inglês? Sobre máquinas fotográficas, de fato, a única coisa que ela pode dizer é que não foi a única: de tempos em tempos um flash piscava em meio ao público, enlouquecendo o povo da organização que andava, de um lado para outro, para avisar os selvagens, mais uma vez, que fotos não eram permitidas.

E tem mais. No bis, Milton comete a sandice de dizer que "a música ficava mais bonita se levantássemos para dançar". Para quê? Hordas não apenas se levantaram, mas foram para a frente do palco, obstruindo a visão de todos os demais. Aí, mais uma diferença: enquanto os brasileiros corriam para a frente do palco, os americanos que estavam lá na frente apenas se levantavam e iam embora do show. É o horror, o horror!

Não podiam faltar, também, neste tipo de evento, aquelas paraenses que nunca puseram o pé no Rio de Janeiro (e me refiro a "paraenses" aqui em sentido amplo: podem ser cearenses, catarinenses, goianos, gaúchos, paulistas... até paraenses, mesmo; refiro a qualquer brasileiro que não tenha ido ao Rio de Janeiro – aeroporto não vale), mas que, por estarem no exterior, tem que gritar falando chiado e se sacudindo na cadeira, só nas músicas um pouco mais conhecidas, como se tivesse entrado algum prego em áreas indesejáveis localizadas acima das coxas e abaixo das costas. Uma delas, na minha frente, já no bis, gritou "Garota de Ipanema" (felizmente, não executada). A única vontade que tive foi de berrar no ouvido dela "Guri de Bento", mas o meu auto-controle anda bem calibrado.

Resumo do show: um grande repertório, grande banda, grandes músicos, gente pequena.

Abraços!

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