outubro 11, 2008

Tiro Curto: Mantega no FMI

Um bate-papo com a matéria que saiu sobre o discurso do Ministro da Fazenda do Brasil no FMI neste sábado.


"Depois de controlada a turbulência, teremos que estabelecer um novo conjunto de práticas para fortalecer e proteger o sistema financeiro, mas sem desviá-lo para as práticas dos países avançados", disse Mantega em seu discurso ao Comitê Monetário e Financeiro Internacional do FMI.


É isto aí: bom mesmo é o sistema financeiro de país em desenvolvimento, como o de um que eu conheço que eu tenho que brigar com ao menos 5 funcionários do principal banco estatal, depois de passar por 2 agências diferentes, só para mandar as minhas economias para cá. Experiências pessoais à parte, ele deve achar bom o sistema brasileiro, que possui um spread na taxa para empréstimo das mais altas do mundo. Isto que é "eficiência", não?


Depois de ter criticado o FMI por ter citado como "exemplos a serem seguidos" as nações como os Estados Unidos e os países europeus que hoje estão no meio da tempestade financeira, o ministro disse que a crise atual torna ainda mais urgente uma reforma fundamental do modo de operar do organismo, o que o Brasil vem pedindo há anos.


De fato, é um absurdo um sistema financeiro em que seja possível conseguir os dados sobre empréstimos da forma como se consegue aqui: não fossem estes dados sobre hipotecas, e Nouriel Roubini - o Dr. Doom - não conseguiria avisar com tanta antecedência sobre os problemas da economia americana. Alguém sabe, por fonte confiável, como anda a distribuição do crédito no Brasil (quem toma empréstimos, a que taxa, com que prazo e quanto da renda é comprometida com isto)? Vi que saiu um box no último Relatório de Inflação sobre isto, mas os dados do box estarão no ar sistematicamente?


Mantega indicou que o sistema financeiro resultante desta crise deve ser, provavelmente, menor e mais regulado que o atual.


Como é que ele quer medir o tamanho do sistema financeiro? Participação no PIB? Se for, quando o lucro dos bancos subirem e, por consequência, sua participação no PIB aumentar, ele vai sair aumentando a tributação sobre os bancos? Ou vai querer transformar banco em fazenda para aumentar o PIB agrícola?


Em particular, o ministro brasileiro pediu um maior monitoramento dos países ricos pela instituição, insistindo em sua proposta apresentada em assembléias anteriores do FMI e do Banco Mundial (Bird), de criar uma linha de crédito de acesso rápido e menos condicionada para prover liquidez às nações emergentes e em desenvolvimento diante de choques financeiros.

Mantega insistiu ainda que o FMI deve "evoluir rapidamente para um aumento dos limites de acesso para seus empréstimos", o que vai contra a idéia dos EUA.


Hummm... deixa eu ver se entendi direito a proposta: ele quer que o FMI, que é majoritariamente bancado pelo dinheiro dos contribuintes de países ricos, por um lado fiscalize melhor os países ricos; por outro lado, que o dinheiro que os contribuintes de países ricos esteja mais acessível para as nações "emergentes". Mantega quer que os ricos financiem uma instituição para que dirigentes como ele, Mantega, possam dar palpites sobre a economia dos ricos!!! Não é uma proeza?

Eu tenho uma proposta melhor: que tal o FMI oferecer todo o acesso possível aos "emergentes" ao seu dinheiro, mas os países ricos retiram toda a sua participação, suas cotas, do Fundo? Assim, o FMI seria independente o suficiente para oferecer opiniões e socorro para os países desenvolvidos. "Ah, mas aí o FMI perde a importância!" Não, não perde importância: o FMI, com isto, fica do tamanho dos "emergentes". Ficar fazendo omeletes com os ovos dos outros é barato, né?

Acho o fim, em um momento de crise como este, um dirigente do país ir para uma conferência destas para ficar falando platitudes, além de colocar no mesmo degrau de importância economias como a americana ou a européia com as suas equivalentes "cucarachas". Notem que, a despeito da verborragia, o representante brasileiro não fez nenhuma proposta para resolver o imediato, a crise de agora: só o depois, o longo prazo, como se não estivéssemos todos mortos até lá...

Abraço!

2 comentários:

Anônimo disse...

Por sinal, este post foi uma resposta no mesmo nível verborrágico e cheio de platitudes, heim?

Desculpa, mas era guerra que o Mantega entrou aí vai muito mais além de oferta e demanda de crédito para os países. Tem a ver com as preferências individuais. Lembra? Aquele lado que sempre é ignorado? As pessoas querem sim maximizar seu bem-estar, e alocar eficientemente os preços. Mas você sabe qual é o bem-estar que o Mantega defendeu? E qual o preço das trocas envolvidas. Infelizmente, quando o assunto é poder e política, tudo vira nuvens e os técnicos só podem esperar (já que de política pouco entendem) para saber afinal qual o bem-estar eles pretendem maximizar.

Agora, em termos práticos. FMI é hoje uma peça política de relação entre os países pobres e ricos. Não é nenhum absurdo cutucar os grandes dizendo "estamos de olho nos seus erros. Continuem assim e o mundo será nosso em pouco tempo"

Eu não gosto do Mantega, acho ele muito facilmente levado pela Casa Civil (foi colocado lá pra isso, afinal). Mas no âmbito internacional, ele fez bem o que devia fazer.

E se eu bem entendi, do trecho que você pegou da notícia: "teremos que estabelecer um novo conjunto de práticas". Por que isto significa implementar problemas estruturais brasileiros? Por que não as boas práticas mundo afora, ao invés de continuar permitindo ao governo americano fazer lobbies e vista grossa aos infames do mercado?

Vim até aqui por recomendação do Shikida, mas não gostei do que vi não, desculpa.

Angelo M Fasolo disse...

Oi Igor,

Tudo bem? Antes de mais nada, obrigado pela visita.

Sinceramente, não entendi o seu comentário. Você diz que ele foi interessado em defender "preferências individuais". Na minha opinião, ele não fez o melhor para defender os interesses do país, e isto foi o que eu tentei dizer. Se você entendeu o que tentei dizer, você está dizendo que Mantega foi para lá para defender uma pauta individual ou, na melhor das hipóteses, partidária? Bom, não vou entrar mais a fundo neste aspecto, já que, pelo visto, você sabe qual a preferência defendida pelo Ministro.

Em termos práticos, o FMI não é pauta de relacionamento algum entre os países, nunca foi. O FMI, na minha opinião, foi sempre a instituição responsável por gerenciar o socorro financiado pelos países desenvolvidos aos países em desenvolvimento. Se você acha que ele tem poder de fogo para ajudar na crise, dá uma olhada aqui: http://www.imf.org/external/np/exr/facts/howlend.htm
No final da página, aparece o total de fundos disponíveis para empréstimo pelo fundo: US$ 200 bilhões! Menos de um terço do pacote de ajuda aprovado pelo governo americano! Que poder de persuasão tem um órgão destes???

Além disso, dizer que "o mundo será dos emergentes em pouco tempo", quando o equivalente a seis economias do tamanho do Brasil sumiram das bolsas em uma semana (http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u455000.shtml), só me leva a uma conclusão: o mundo será dos emergentes, não do Brasil.

A respeito das "boas práticas", se você leu depois da vírgula ("um novo conjunto de práticas para fortalecer o sistema financeiro, mas sem desviá-lo para as práticas de países avançados"), está excluindo as práticas de todos os países desenvolvidos. Não veja, por favor, em mim alguém que seja contra um novo sistema de regulação para os mercados. Entretanto, se eu excluo todas as práticas dos países ricos, o que sobra? Eu puxei uma ironia, você leu a sério. Devo melhorar minha escrita...

Por fim, sobre as platitudes, eu não sou pago para escrever no blog. O Mantega recebe dinheiro dos impostos para falar um pouco mais do que isto. Eu esperava mais pelo que pago de impostos. Espero que você não queira muito mais de um blog pelo qual não paga nada para ler, e pelo qual o Shikida não me cobra nada para ser divulgado.

Um abraço, e volte sempre.