Fiquei especialmente satisfeito com a cobertura de parte da imprensa brasileira a respeito dos laureados com o Prêmio Nobel deste ano. Tendo em vista a complexidade do tema da pesquisa dos homenageados, esperava que o festival de bobagens fosse inesquecível. Decepção minha: nos três jornais mais importantes do país (Folha, O Globo e Estadão, os dois últimos nas suas páginas de notícias on-line), a cobertura foi bem ponderada.
O Globo e o Estadão se limitaram, corretamente, em reproduzir o que as agências internacionais publicaram a respeito dos vencedores. Por pior que seja a cobertura destas agências, a possibilidade de erros na matéria diminui bastante, já que os jornalistas tentam fazer uma reportagem bastante "descritiva" da notícia, sem se preocupar com análises detalhadas sobre o mérito da premiação. Até neste aspecto, o texto da BBC-Brasil, publicado por ambos jornais, foi bastante feliz ao lembrar a ligação do trabalho destes autores com a pesquisa de John Nash Jr., vencedor do Nobel pelo desenvolvimento e aplicação de teoria dos jogos em economia.
Já a Folha, na sua edição impressa, evitou fazer a ligação do trabalho dos homenageados com situações cotidianas, dentro da linha editorial que costuma resultar em desastres na área. Ao contrário, fez o que um jornal correto deveria fazer, se quisesse estabelecer alguma ligação com o Brasil: procurar economistas sérios para dar a sua opinião. O resultado foi excelente. As entrevistas com Aloísio Araújo e Maurício Bugarin foram escolhas das mais felizes para explicar ao leitor leigo a importância da pesquisa dos vencedores.
Por outro lado, Zero Hora parece ter designado o estagiário da coluna de horóscopo para escrever a sua matéria. Dizer que a escolha de Maskin, Hurwicz e Myerson é um "golpe no liberalismo econômico ortodoxo" é, para dizer o mínimo, uma bobagem sem tamanho. A afirmação equivale a dizer que as universidades de Chicago (!!!), Minnesota e Princeton, onde trabalham os agraciados, seriam centros de disseminação da cultura heterodoxa. Antes os nossos heterodoxos ouvissem o que dizem os pesquisadores destas escolas...
Felizmente, outros sites capazes de produzir bobagens de qualidade equiparável sob a carcaça de jornalismo econômico responsável se abstiveram de comentar a premiação.
Abraços!
Um comentário:
Tomara que os heterodoxos leiam o ZERO HORA e ACREDITEM!!!!
Adolfo
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