outubro 04, 2007

Troca-se Big Mac por iPod

Um dos mais famosos indicadores da paridade do poder de compra entre moedas pode entrar em desuso: o "Índice Big Mac", da revista The Economist, está sendo desafiado como indicador da valorização das moedas nacionais pelo "Índice iPod", desenvolvido pelo banco australiano Comsec. A teoria por trás da construção dos índices é a boa e velha PPP: na sua síntese, o que ela afirma é que produtos iguais, depois de ajustados pela taxa de câmbio, devem ter preços iguais em qualquer país onde o produto seja comercializado. Assim, se o preço em dólares do Big Mac no Brasil é 15% maior que o preço do Big Mac nos Estados Unidos, afirma-se que o Real brasileiro está 15% sobrevalorizado em relação ao dólar.

Partindo deste princípio, duas perguntas se fazem necessárias: 1) Por que o Big Mac para comparar os preços? 2) Por que medir os preços pelo iPod seria mais eficiente?

Para a primeira resposta, fico com as palavras de um saudoso professor, que em suas aulas de economia internacional para a graduação na UFRGS elaborava o raciocínio de forma brilhante. A comparação entre as taxas de câmbio deveria ser feita usando um produto que todos os habitantes, em média, de um país consomem. Assim, o produto ideal deveria considerar mão-de-obra, capital, gastos com comida, além de impostos. Qual é a mistura mais uniforme destes produtos, de forma que um consumidor de Taiwan esteja comprando o mesmo objeto que um consumidor de Buenos Aires, e que leve em conta todos estes produtos básicos? O Big Mac!!! Logo, o Big Mac não é sequer uma refeição, mas uma grande mistureba de bens que todo mundo consome.

Para responder por que o iPod seria uma medida melhor para a paridade do poder de compra, basta constatar um fato: quando os brasileiros voltam de viagem da Europa, ou dos Estados Unidos, qual o produto que eles trazem na bagagem? Um iPod, que custa US$ 149,00 por aqui, contra US$ 327,71 no Brasil, ou um Big Mac, que custa US$ 3,22, contra US$ 3,60 no Brasil? É óbvio que, mesmo sendo mais barato, e mesmo sendo constituído por bens comercializáveis, ninguém vai trazer um hamburguer americano para a sua refeição. E aí está a grande vantagem do iPod como medida: por ser produzido na China, seus custos de transporte são mais ou menos equalizados ao redor do mundo, e os custos de produção absolutamente uniformes; também é um produto que possui as mesmas características onde quer que seja vendido; além disso, o "status" de ter um iPod ao redor do globo é mais ou menos o mesmo ao redor do mundo - o mesmo não se pode dizer do Big Mac em lugares onde ir para o Mc Donalds seja uma espécie de luxo, ao contrário daqui.

Para maiores informações sobre o "Índice iPod", ver aqui.

Abraços!

Nenhum comentário: